Quando escuto alguém afirmar que “a crítica de cinema morreu”, normalmente respondo: não, a crítica artística é uma ferramenta filosófica importantíssima, o que morreu foi o raciocínio. Semanas atrás li estudos de que a média do QI brasileiro atualmente é considerada em muitos países como sendo deficiência mental.
A situação, como ficou provado no experimento de engenharia social dos últimos 2 anos, não é maravilhosa no resto do mundo, mas é inegável que vivemos hoje no país a consequência brutal de décadas de proposital manipulação midiática e, claro, um sistema educacional que aprovava automaticamente os alunos, entregando para o mercado de trabalho e para a vida uma legião de diplomados analfabetos funcionais nos mais variados setores, a triste realidade é que convivemos com um coletivo que é simplesmente incapaz de interpretar textos, que lê mal, escreve mal, pensa mal e, por conseguinte, intensamente problemático na compreensão artística.
O sistema conseguiu impor facilmente neste cenário caótico o conceito de que “tudo é belo”. Se tudo é belo, nada é belo. O receptor, incapaz de raciocinar e extrair uma conclusão lúcida sobre aquilo que se coloca como arte, prefere, por total insegurança intelectual, aplaudir e, com frequência, discutir a obra, inclusive com os profissionais que dedicaram suas vidas ao estudo daquela arte.
O indivíduo de QI satisfatório ou elevado, acima de tudo, tem consciência de sua ignorância no assunto em questão, ele não apenas respeita o profissional, mais que isto, ele valoriza sobremaneira cada oportunidade de aprender com ele sobre o tema.
Como resolver o problema? É impossível pensar algo em curto e médio prazo, a situação é facilitada caso a massa verdadeiramente deseje se educar de forma autodidata, provavelmente apenas as próximas gerações serão beneficiadas a partir de uma mudança de atitude tomada hoje.
Você pode inspirar seus filhos, seus pais, seus vizinhos e amigos, mas saiba que o caminho do aprendizado é solitário, em pouco tempo, vai perceber que não se encaixa nos moldes sociais, não será popular, não somará nas filas longas, mas a recompensa do esforço é sua alma. Ao final da jornada, terá orgulho de suas escolhas, além da certeza de ter vivido uma experiência existencialmente privilegiada.
O cinema também não morreu, apesar de se exibir muito debilitado, afinal, está sendo vítima de interesses grotescos, utilizado como infantilizada muleta, entretenimento imediatista desprezível, ele, em suma, reflete cristalinamente o bestializado mundo atual.
Se eu quiser lucrar com meu trabalho, leia-se, suprir a demanda do público, entregar o que ele quer, preciso adaptar o meu estilo e modificar radicalmente minha abordagem enquanto profissional da crítica cinematográfica, jogar no lixo a minha paixão pela formação qualitativa e pelo papel fundamental da memória cultural neste processo.
PIX: 21 – 99508 2273 (Teresa Cristina, esposa)
Eu remo contra esta corrente, luto para seguir acreditando que é possível sobreviver dignamente estimulando a transformação no público, não seria feliz conquistando melhoria financeira enquanto chafurdo na lama com meus leitores.
Resumindo, não sou aquele professor que, no desespero para tentar ensinar algo à uma classe deselegante ou desinteressada, baixa o nível, perde a essência, sigo impondo o ritmo da melodia, na esperança de que, a cada dia, mais vozes se unam neste belo coral.
O desabafo nasceu ao rever o lindo “Mr. Holland – Adorável Professor” (Mr. Holland’s Opus – 1995), dirigido por Stephen Herek, roteirizado por Patrick Sheane Duncan e protagonizado por um inspirado Richard Dreyfuss.
O personagem, próximo da aposentadoria, crê que sua vida foi em vão, afinal, ele nunca conseguiu ser reconhecido como compositor, dedicou boa parte de seu tempo ao tratamento do filho deficiente auditivo, precisou também aceitar mais classes ao longo dos anos, para aumentar a renda mensal e conseguir pagar os estudos especiais do menino, não sobrou tempo para realizar o seu maior sonho.
Na cerimônia surpresa de despedida, ele se emociona ao ver o ambiente lotado, mas nada preparou seu coração para o discurso que seria defendido por uma de suas alunas mais antigas, que havia se tornado uma figura política relevante.
O momento é um dos mais bonitos do cinema da década de 90.
“O sr. Holland teve uma profunda influência na minha vida e em muitas vidas que conheço. Mas tenho a sensação de que ele considera uma grande parte de sua própria vida desperdiçada.
Rumores diziam que ele estava sempre trabalhando nesta sinfonia dele. E isto o tornaria famoso, rico, provavelmente ambos. Mas o sr. Holland não é rico e não é famoso, pelo menos não fora de nossa pequena cidade. Portanto, pode ser fácil para ele pensar que é um fracasso.
Mas ele estaria errado, porque acho que ele alcançou um sucesso muito além da riqueza e da fama. Olhe à sua volta. Não há uma vida nesta sala que você não tenha tocado, e cada um de nós é uma pessoa melhor por causa de você.
Nós somos sua sinfonia sr. Holland. Nós somos as melodias e as notas de sua obra. Nós somos a música da sua vida.”
Trecho do belíssimo desfecho do filme:
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