Os Seus, os Meus e os Nossos (Yours, Mine and Ours – 1968)
Um viúvo (Henry Fonda) com dez filhos decide se casar com viúva (Lucille Ball) com oito filhos. A nova família precisa encontrar uma casa onde todos possam morar e um modo de dar atenção a todos eles. Além disso, mais um membro vai entrar para esta enorme família.
No tenebroso tempo em que vivemos, quando a parceria entre a indústria farmacêutica e a imprensa opera o projeto mais monstruoso de drástica redução populacional em escala global, com os tentáculos dos financiadores promovendo abertamente um futuro próximo em que o adoecimento forçado desde a infância garantirá vida curta e vazia de propósito para a massa escravizada, resgatar um filme como “Os Seus, os Meus e os Nossos” pode parecer um ato de coragem, remar contra a corrente de adestramento coletivo, celebrando um roteiro que, em uma de suas melhores cenas, repudia contundentemente um dos pontos mais fortes da agenda dos titereiros do caos: o aborto.
A obra, lançada em 1968, período em que o sistema plantava em todos os setores a destruição dos valores familiares, sofreu críticas debochadas de boa parte dos jornalistas, mas foi carinhosamente abraçada pelo público, que ficou encantado com a química entre Lucille Ball e Henry Fonda. A filha do ator, Jane Fonda, revelou em entrevista que seu pai estava muito apaixonado por sua colega de trabalho na época das filmagens.
Os dois já haviam trabalhado juntos no bom “Rua das Ilusões” (The Big Street – 1942). O roteiro, escrito por Madelyn Pugh e Bob Carroll, livremente baseado na história real de Frank e Helen Beardsley, faz uso generoso do recurso da quebra da quarta parede, facilitando ainda mais a imersão emocional do espectador.
Uma curiosidade, no Brasil, a telenovela infanto-juvenil “Vamp” (1991) copiou sem sutileza alguma o conceito, com o casal vivido por Reginaldo Faria e Joana Fomm. Vale destacar também que o sucesso comercial do filme possibilitou o sinal verde para a série “A Família Brady” (1969).
A cena que mencionei no primeiro parágrafo é um tesouro de pura sensibilidade. Após utilizar os conflitos familiares como fonte cômica em diversos momentos, destacando desde o início a diferença entre gerações, o roteiro entrega uma aula de maturidade psicológica. Analisando a forma infantilizada como os adultos de hoje pensam e falam, parece até material de ficção científica. O pai, correndo para levar sua esposa grávida ao hospital, ensina à mimada filha adolescente sobre o que é o real amor.
Pai: “Quer saber o que é o amor de verdade? Olhe com muita atenção para sua mãe agora. Criar vida é o que importa. Até que você esteja pronta para isto, todo o resto é apenas uma grande fraude. A vida não é uma busca fútil por afeto, mas sim, lavar os pratos, levar no ortodontista, no sapateiro, ter carne moída simples no almoço ao invés de rosbife. E vou te dizer outra coisa: não é ir para a cama com um homem que prova que você está apaixonada por ele; o que importa é levantar de manhã e enfrentar o monótono, miserável e maravilhoso mundo cotidiano com ele.”
E, enquanto a filha e o público digerem o forte discurso, ele finaliza com um argumento perfeito:
Pai: “Eu sei que ter 19 filhos é um exagero, mas se eu pudesse voltar atrás e refazer minha vida do zero, quem nós teríamos descartado? Você?”
Brilhante!
Trilha sonora composta por Fred Karlin:
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Estava procurando uma resenha sobre esse filme para fazer um vídeo, e foi uma surpresa e alívio encontrar alguém falando a verdade sobre