No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não é entregar uma longa análise crítica, algo que toma bastante tempo, mas sim, uma espécie de drops cultural, estimulando o seu garimpo (lembrando que só serão abordados filmes que você encontra com facilidade em DVD, streaming ou na internet). O formato permite que mais material seja produzido, já que os textos são curtos e despretensiosos.
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À Flor do Mar (1986)
Laura Rossellini (Laura Morante) parte para Roma, levando consigo os seus filhos e decidida a nunca mais retornar a Portugal. Entretanto, ela não poderia imaginar que em meio ao seu refúgio, ela receberia uma visita mais familiar do que ela gostaria.
“Na mão do Senhor estão todos os confins da Terra.”
O trabalho do saudoso roteirista/diretor português João César Monteiro infelizmente está fadado ao esquecimento, não há mais espaço no mundo para obras artísticas pensadas para adultos psicologicamente maduros, a geração atual já se infantilizou sobremaneira, a próxima provavelmente será incapaz de raciocinar, logo, escrevo nos dias de hoje como o náufrago que deposita no bilhete dentro da garrafa a esperança na humanidade, antes de atirá-la ao mar.
O seu jeito de pensar os filmes como poemas alcançou seu ápice nesta pérola protagonizada pela belíssima atriz italiana Laura Morante.
Aquele que focar sua atenção na trama vai se frustrar com a lentidão com que ele conduz a experiência, as cenas e os diálogos existem mais como sutis transições de tons, a atmosfera onírica fascina, hipnotiza os mais sensíveis, o lirismo na entrega do elenco, até mesmo nas frases mais simplórias, remete àqueles fragmentos de sonhos que incrivelmente permanecem vivos na memória por anos. O pleno entendimento só se estabelece ao final, o leitmotiv da fragilidade do sentimento amoroso, recompensando todos que verdadeiramente imergiram na proposta.
Fruto de uma época não tão distante em que o público de todas as classes sociais primava pelo estofo cultural, Monteiro sinaliza em determinado momento uma referência ao clássico “De Repente, no Último Verão” (1959), com Elizabeth Taylor, e, para aqueles mais familiarizados com a citada obra, o paralelismo no todo é óbvio, delicada homenagem de altíssimo nível. O sobrenome da protagonista é uma referência direta ao grande Roberto Rossellini. E há também muito de “Teorema” (1968), de um de seus ídolos, Pier Paolo Pasolini, mas com uma visão de mundo menos pessimista.
Enquanto a garrafa se afasta no ritmo das ondas, reflito: que triste realidade compartilhamos hoje, em que a massa consome vídeos “explicando o final de…” qualquer bobagem rasa e tola. Como a sociedade pode ter se perdido tão rapidamente? Eu posso estar desatualizado, o ato de pensar já é crime?
“À Flor do Mar” é um tesouro do cinema português.
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