Críticas

Dica do DTC – “Oleanna”, de David Mamet, com WILLIAM H. MACY

No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não é entregar uma longa análise crítica, algo que toma bastante tempo, mas sim, uma espécie de drops cultural, estimulando o seu garimpo (lembrando que só serão abordados filmes que você encontra com facilidade em DVD, streaming ou na internet). O formato permite que mais material seja produzido, já que os textos são curtos e despretensiosos.

***

Oleanna (1994)

Uma estudante (Debra Eisenstadt) que foi reprovada no curso acusa seu professor (William H. Macy) de assédio como forma de vingança.

Antigamente, os sanatórios estavam lotados de pacientes que se identificavam como Napoleão, hoje, você pode ser preso se ousar questionar qualquer indivíduo que afirme ser o imperador francês, e, sem exagero, prevejo que, neste ritmo, em alguns anos aqueles que não demonstrarem sinais de transtornos mentais graves serão severamente punidos por “excesso de lucidez”.

Rever uma pérola como “Oleanna”, do grande David Mamet, esquecida nestes tempos sombrios, pode ter efeito até terapêutico, haja vista que a trama é defendida por personagens que pensam, agem e falam como adultos psicologicamente maduros, espécie em extinção.

O ator norte-americano William H. Macy sempre eleva a qualidade do material, usualmente utilizado como coadjuvante, ele encontra desta feita a oportunidade de ouro para demonstrar plenamente seu talento, repetindo o desempenho que já havia sido aplaudido nos palcos, na peça homônima do próprio Mamet.

É possível que o público atual reclame do resultado, após décadas de um eficiente processo de infantilização, a massa pode considerar o filme chato, arrastado e com muitos diálogos, mas aquele que manteve sua sanidade nos últimos três anos vai se chocar ao perceber como o roteiro segue absurdamente atual, talvez mais do que na época de sua estreia, já que critica abertamente as sementes do que se transformaria na estúpida “cultura do cancelamento”, a manipulação social através da patética ferramenta do “politicamente incorreto”.

A jovem estudante vai muito mal na matéria, mas ela se sente merecedora de um tratamento especial por causa de sua situação financeira desfavorável e de seus muitos sacrifícios para frequentar a escola. Como as suas notas não melhoram, ela, por vingança, deseja destruir a reputação de seu professor com uma gravíssima acusação. E, quando questionada, ela, sem sinal de remorso, sinaliza que a sua verdade absoluta, mesmo sem qualquer prova que a sustente, deve ser respeitada cegamente.

Um tesouro que merece ser redescoberto.

  • O filme não está em plataformas de streaming, nem foi lançado no Brasil em mídias físicas, mas você encontra com facilidade garimpando na internet.
Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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