Pagliacci (1982)
A história se passa no sul da Itália e narra a tragédia de Canio (Plácido Domingo), o palhaço principal de uma trupe de commedia dell’arte, sua esposa Nedda (Teresa Stratas) e o amante dela, Silvio (Alberto Rinaldi). Quando ela rejeita as investidas de Tonio (Juan Pons), outro artista da trupe, ele conta a Canio sobre a traição de Nedda.
Os adolescentes da minha geração normalmente se rebelavam tatuando os seus corpos, escutando rock pauleira, em suma, criando uma imagem radicalmente diferente do que seus pais desejavam.
Na minha casa, o meu pai chegava do trabalho e reclamava do que ele considerava uma “gritaria sem fim”, leia-se, discos de ópera que eu escutava no quarto. Quando eu agreguei o repertório do Elvis Presley aos meus queridos tenores, e, claro, comecei a cantar junto, aí eu me senti o próprio James Dean em “Juventude Transviada”.
E quando eu estava gravando em VHS os especiais do Frank Sinatra na fase inicial da TV por assinatura e, com indisfarçável decepção no rosto, ele entrou no quarto e percebeu que eu estava “perdendo” o “paredão” do BBB? Não preciso nem dizer que o fato de eu não suportar futebol também não ajudou, né? Sim, na minha juventude, levando em conta a realidade que eu vivia, não havia ninguém mais transgressor.
LEIA AQUI O MEU TEXTO SOBRE “LA TRAVIATA” (1982), DE ZEFFIRELLI.
Eu nunca esqueço a emoção que senti ao alugar o VHS de uma das minhas óperas favoritas, “Turandot” (1987), com produção do Zeffirelli, gravado no Metropolitan Opera, com a Éva Marton e o Plácido Domingo. É incrível, insuperável. Hoje está fácil, você encontra em questão de segundos na internet.
Só o fato deste material ter sido lançado em home video com legendas em português já evidencia como o Brasil era um país infinitamente melhor, hoje, algo assim não seria sequer cogitado, não há demanda, os adultos diplomados só querem saber de barbados fantasiados voando e soltando raios pelas mãos. E os adolescentes? Eu prefiro nem comentar, se na minha época eu já era considerado “esquisito” pelos colegas da mesma idade, hoje eu seria levado com urgência para algum laboratório para observação.
“Pagliacci“, de Zeffirelli, não sei se foi lançado em VHS por aqui, mas tive a oportunidade de assistir a ele uns dez anos atrás, alguma alma caridosa disponibilizou completo em boa qualidade no Youtube, obviamente não perdi tempo, baixei e gravei em DVD, que revi para este texto. Ele reúne novamente Teresa Stratas e Plácido Domingo, que já encantavam o público no belíssimo “La Traviata”.
A ópera mais famosa de Ruggero Leoncavallo, eternizada principalmente pela ária “Vesti la Giubba” (“… Ridi, pagliaccio, sul tuo amore infranto…”), é excelente para mostrar para todos que afirmam odiar esta arte, já que ela é tematicamente simples, mais curta, objetiva, intensamente melodramática.
Se a pessoa terminar a sessão e não tiver seu coração tocado pela obra, desista com a consciência tranquila, entregue a ela uma bola de futebol, vire-se na direção contrária, corra e não olhe para trás.
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