Quando comecei minha jornada profissional em 2008, muitas manchetes alertavam: “a crítica de cinema é uma arte que morreu.”
Eu percebia que até mesmo colegas veteranos defendiam este argumento, mas segui em frente, sabia que o problema estava na forma como esta arte havia sido politizada e transformada em muleta panfletária nas mãos de pessoas intelectualmente inseguras e dependentes da autoafirmação constante.
O olhar apaixonado havia sido substituído pela inveja, os textos que eu lia transmitiam amargura, prepotência, em suma, validavam aquela imagem do crítico como um artista frustrado. Talvez aquele fosse um movimento de autossabotagem inconscientemente pensado pelos próprios profissionais, para que pudessem ser realocados por seus veículos para os setores que verdadeiramente amavam, como o futebol, a música ou a política.
Outro ponto que me incomodava e que tive que aprender na prática, aquela crença de que o público deseja aprender e que só não consegue porque não recebe material de qualidade. É uma ilusão frágil. A equação é mais complicada, vivo esta realidade diariamente e posso afirmar que, apesar do sistema, por causa própria, não se interessar em formar uma massa lúcida que raciocine bem, todos os obstáculos seriam vencidos se houvesse uma maioria realmente dedicada em ser melhor.
Eu vou ilustrar de maneira simples, utilizando o microcosmo em que trabalho. A minha fonte de renda depende da quantidade de vezes que clicam para ler os meus textos, trocando em miúdos, quando a matéria explode de visualizações, há remuneração, quando ela é pouco acessada, não há remuneração alguma.
Quando comecei, estava muito empolgado, vivendo o meu sonho, achava do fundo do coração que o público queria aprender, logo, investi pesado na escolha dos temas, cinema mudo, cinesseriados, curiosidades sobre artistas pouco lembrados, questões técnicas de filmagem, passava madrugadas inteiras trabalhando nos parágrafos, postava o conteúdo e ficava aguardando com um largo sorriso a recepção dos leitores.
Os meses foram passando, constatei nas estatísticas que não havia interesse algum, nem a mínima curiosidade, e, pior, descobri que eu precisava também ensinar boa parte do público a clicar no link para ler o texto. Sim, muitos acreditavam que a chamada da postagem já era a análise. Os anos foram passando, aquela alegria que eu sentia ao aguardar a reação do público foi se esfriando, comecei a entender que a única maneira de seguir apaixonado pelo trabalho seria entendê-lo como missão de vida, leia-se, fazer apenas para o meu prazer.
Hoje, quase não há remuneração, trabalhar objetivando formar um público que valorize a preservação da memória cultural é ler com frequência comentários como: “não conheço porque não é do meu tempo”, “gente morta não faz aniversário”, “odeio cinema porque é tudo mentira”, “os artistas não prestam”, “não dá para ler com tanta propaganda”…
A necessidade de sobreviver obriga o profissional a abandonar ao longo do tempo a sua forma de pensar a crítica de cinema. O professor começa o ano motivado, mas o comportamento da turma transforma o indivíduo.
Se antes eu celebrava o aniversário de vários artistas importantes na história do cinema mundial, hoje, resgato apenas os nomes mais conhecidos. Se antes eu escrevia longos parágrafos em análises sobre obras obscuras, hoje, consciente de que estes temas serão desprezados pelo desinteresse da massa em aprender, produzo textos curtos e objetivos. Se antes eu planejava com meses de antecedência o material que seria trabalhado, hoje, penso em satisfazer aqueles que carinhosamente valorizam meu trabalho, um comentário gentil em uma postagem pode me motivar a preparar uma crítica sobre um filme que nem estava em meu radar.
E, saiba, você que está lendo este texto, que a sua participação, o seu incentivo, faz valer o esforço de seguir produzindo análises críticas. Eu aprendi na prática que o segredo é focar naqueles que estão prestando atenção, o olhar arguto da aluna na primeira fila sempre renova a esperança do professor, aquele papo de melhorar o mundo é balela, o máximo que posso fazer é tentar iluminar o caminho, não posso forçar a pessoa a dar o primeiro passo ou se manter reta na estrada.
A crítica de cinema nunca vai morrer, a arte é fundamental.
Aproveitando o ensejo, caso você queira apoiar com qualquer valor o meu trabalho:
PIX: 21 – 99508 2273 (Teresa Cristina, esposa e coprodutora dos curtas)
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