Críticas

“Distrito 9”, de Neill Blomkamp, na HBO MAX

Distrito 9 (District 9 – 2009)

Alienígenas chegam à Terra em busca de refúgio e passam a viver separados dos humanos em uma área na África do Sul chamada Distrito 9. Eles são comandados pela multinacional United, que não se importa com o bem-estar dos visitantes, mas se dispõe a tudo para dominar a tecnologia que eles possuem. Quando um agente (Sharlto Copley) em campo contrai um vírus que altera o seu DNA, o distrito passa a ser o único lugar em que ele pode se esconder.

Eu fui um dos poucos críticos brasileiros que apontaram em sua estreia graves problemas na estrutura do filme, considerei a premissa brilhante, mas a execução prejudicava a imersão emocional, a longa duração não se justificava, e, importante, o humor não estava inserido de forma bem equilibrada. A experiência poderia fluir narrativamente melhor caso o roteiro tivesse lapidado estas arestas.

Ao rever a obra para este texto, constatei que os problemas seguem sendo um obstáculo, mas, levando em conta como a qualidade geral do cinema mundial caiu absurdamente nos últimos cinco anos, praticamente pulou do avião sem paraquedas, o saldo final foi bastante positivo, melhorou em meu conceito.

O primeiro ato força a mão no estilo mockumentary, o tom é mantido leve, apesar de seu cenário fantástico servir como uma alegoria sociopolítica nada sutil.

A entrega com fortes tintas caricaturais e propositalmente irritante do protagonista nesta etapa inicial não ajuda, qualquer pessoa minimamente familiarizada com o gênero capta logo que se trata de uma figura patética que será radicalmente transformada naquilo que enxerga como inferior, logo, não há surpresa, o que incomoda é o tempo que leva para a trama desenvolver esta situação, envolvendo no terceiro ato uma referência à “Aliens, O Resgate”, quando, infelizmente, abraça os clichês dos sci-fi de ação, reduzindo consideravelmente o impacto de suas boas ideias.

Se o roteiro estabelece que a lógica do filme é o falso documentário, leia-se, as imagens são captadas por um operador de câmera inserido como personagem na trama, ele quebra o encanto nos vários momentos na segunda metade em que o estilo de filmagem de “Distrito 9” se torna convencional. É perceptível o dedo de executivos, receosos com a recepção do público, inchando o produto com sequências e subtramas óbvias.

A sorte do filme é que as suas boas ideias são tão interessantes, corajosas, que elas compensam as falhas. A maneira como o protagonista descobre, da pior forma, como o sistema é desumano, e, vale ressaltar, como ele financia a imprensa e utiliza esta máquina para conquistar seus objetivos, distorcendo a verdade (a explicação que é dada ao povo do local sobre a origem da transformação física do personagem), por si só, já merece aplausos de pé.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

Recent Posts

PÉROLAS que ACABAM de entrar na NETFLIX

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

21 horas ago

Dica do DTC – “A Cilada”, de Hiroshi Teshigahara

No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não…

2 dias ago

Crítica de “Farol da Ilusão”, de Matty Brown, na NETFLIX

Farol da Ilusão (The Sand Castle - 2024) Presa em uma ilha deserta, uma família…

3 dias ago

“Vidas Sem Rumo”, de Francis Ford Coppola

Vidas Sem Rumo (The Outsiders - 1983) Numa pequena cidade do Oklahoma, duas gangues de…

3 dias ago

O desabafo de um escritor brasileiro

O que está acontecendo com o povo brasileiro? Será que sempre foi assim? Algo que…

4 dias ago

ÓTIMOS filmes que ACABAM de entrar na NETFLIX

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

5 dias ago