CRÍTICA ESCRITA E PUBLICADA ORIGINALMENTE EM 24/09/2015.
Evereste (Everest – 2015)
Em maio de 1996, escaladores de duas expedições diferentes começam a subir em direção ao cume do Monte Everest, mas logo se veem lutando por suas vidas em uma nevasca mortal.
O diretor irlandês Baltasar Kormákur realizou, em 2012, “Sobrevivente”, escrito pelo próprio, um projeto pouco visto, que entrou na minha lista de dez melhores do ano em que estreou no Brasil.
A minha expectativa era positiva para esse retorno ao tema do confronto do homem com a natureza, porém, desta feita, o resultado, ainda que acima da média quando comparado a similares no gênero, reflete a indisfarçável fragilidade do roteiro de Simon Beaufoy (Quem Quer Ser um Milionário?) e William Nicholson, dois profissionais treinados no método hollywoodiano de envernizar tramas simplórias, com vasta experiência em debruçar nas fórmulas mais desgastadas, o que fica claro na maneira como a trama trabalha as personagens femininas, que parecem saídas de telefilmes da década de noventa.
Exatamente por se tratar de um caso real, a tragédia ocorrida em 1996, os personagens deveriam agir com mais organicidade, o que facilitaria o investimento emocional do espectador. As personalidades são traçadas com tintas caricaturais, o que, considerando a qualidade do elenco (Jake Gyllenhaal, Josh Brolin, Emily Watson e Keira Knightley) causa até desconforto. Com uma fotografia impressionante de Salvatore Totino e cenas verdadeiramente impactantes, é estranho que a história, com tremendo potencial dramático, conduza à perturbadora indiferença.
A trilha sonora minimalista de Dario Marianelli, inserida em um contexto tão inexpressivo, acaba sendo apagada, ao invés de servir como contraponto elegante. No segundo ato, eu aplaudia o aparente desinteresse pelo melodrama, sempre uma atitude válida, porém, ao constatar que nenhum arco narrativo era minimamente desenvolvido durante o terceiro ato, com o foco apenas no reforçar do verniz, senti falta daqueles similares menos discretos, essencialmente tolos, sim, mas eficientes enquanto entretenimento despretensioso.
A sensação que fica ao final é de uma profunda insegurança artística do realizador com relação ao fraco roteiro. Analisando quão sensível foi sua visão para o sobrevivente que tenta se reajustar na sociedade, no filme anterior já citado, chega a ser frustrante constatar a pobreza no desenvolvimento dos personagens de “Evereste”.
O filme termina, as luzes se acendem, e você já se esqueceu dos nomes.
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