Críticas

“Malena”, de Giuseppe Tornatore, com MONICA BELLUCCI

Malena (Malèna – 2000)

Em uma pequena vila na Sicília, durante a Segunda Guerra, o jovem Renato (Giuseppe Sulfaro) é obcecado pela estonteante Malena Scordia (Monica Bellucci), que desperta paixões adolescentes, o desejo dos homens e a inveja das mulheres.

O menino a enxergava como uma deusa, um ser puro, intocado pela maldade humana, beleza que precisava ser protegida a todo custo. Malena caminhava pelas ruas como se fosse um anjo que não pudesse interferir naquele ambiente, sem fazer contato visual, ignorando o efeito de sua passagem em todos da região.

Somente o menino inconscientemente entendia o perigo que ela corria, alvo da inveja destruidora das frustradas mulheres comuns e dos sonhos de grandeza dos homens inseguros, por conseguinte, agressivos, que desejavam ostentá-la como um troféu.

Ele descobriu o amor ao perceber naquele semblante triste que se escondia por trás da formosura, terreno desconhecido e fascinante, o reflexo das muitas dúvidas naturais que perturbavam sua mente no drástico processo de amadurecimento.

Tornatore consegue transpor para a tela de forma muito divertida a autodescoberta lúbrica que alimenta a primeira parte da história original de Luciano Vincenzoni, evidenciando como a imaginação fértil do garoto, poeticamente inspirada por sua paixão pela teatralidade do cinema, insere oniricamente Malena como a dama a ser salva nas mais diversas situações.

“Dogville”, de Lars von Trier, traria três anos depois a mesma mensagem, a maldade que se esconde no indivíduo, disfarçada pelos rituais, e que é facilmente manipulada pelo sistema em tempos de crise, seja ela alicerçada na verdade ou não. O impulso que, como a filósofa Hannah Arendt defendia, fazia uma pessoa comum, ordinária, negar a lucidez e avalizar atos monstruosos contra seus vizinhos.

No caso de “Malena”, a questão é transmitida de forma mais direta e eficiente, utilizando inclusive o cenário da guerra como óbvia alegoria, sinalizada no absurdo contraste entre o comportamento das mulheres com a protagonista antes e depois do fim do conflito, quando, novamente, as circunstâncias excepcionais são esquecidas e os rituais sociais voltam a maquiar os piores instintos.

Ao final, com seu lindo gesto, reaproximando no anonimato o apaixonado casal, o menino finalmente se torna homem. E, assim como a sua deusa, que facilitou sem saber a doce jornada de seu salvador, com certeza jamais se esquecerá da terrível lição dada pelos moradores da cidade.

  • Adquira o filme em DVD diretamente na loja virtual da distribuidora “Classicline”, AQUI.

Trilha sonora composta pelo saudoso ENNIO MORRICONE:

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

Recent Posts

Crítica de “O Brutalista”, de Brady Corbet

O Brutalista (The Brutalist - 2024) Arquiteto (Adrien Brody) visionário foge da Europa pós-Segunda Guerra…

1 dia ago

Dica do DTC – “Nazareno Cruz e o Lobo”, de Leonardo Favio

No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não…

3 dias ago

Os MELHORES episódios da fascinante série “BABYLON 5”

Babylon 5 (1993-1998) Em meados do século 23, a estação espacial Babylon 5 da Aliança…

4 dias ago

Os 7 MELHORES filmes na carreira do diretor britânico JOHN SCHLESINGER

O conjunto de obra do saudoso diretor britânico John Schlesinger é impressionante, mas selecionei 7…

5 dias ago

PÉROLAS que ACABAM de entrar na NETFLIX

Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…

1 semana ago

Crítica de “A Garota da Agulha”, de Magnus von Horn, na MUBI

A Garota da Agulha (Pigen Med Nålen - 2024) Uma jovem (Vic Carmen Sonne) grávida…

1 semana ago