Oppenheimer (2023)
O físico J. Robert Oppenheimer (Cillian Murphy) trabalha com uma equipe de cientistas durante o Projeto Manhattan, levando ao desenvolvimento da bomba atômica.
O cinema norte-americano vive seu pior momento, o desespero é tanto que o braço de marketing conseguiu estimular a massa de manobra, leia-se, o público mundial, a entrar na tola brincadeira de divulgação de dois filmes que estrearam juntos com propostas completamente diferentes, “Barbie” e “Oppenheimer”, um fenômeno nada orgânico que apenas prova o avançado estado de infantilização da nossa sociedade.
É constrangedor ver membros da indústria, perceptivelmente desconfortáveis, emulando aqueles desafios das redes sociais, psyop que premia a imitação, postando que compraram ingressos para os dois projetos. A realidade é que Hollywood vai suar um bocado para tentar reverter os danos causados pelo caos ideológico que abraçou.
“Barbie”, de Greta Gerwig, é fruto direto do problema, uma bobagem que reforça sem sutileza alguma a agenda torta dos financiadores da autossabotagem da cultura ocidental, mas “Oppenheimer” sinaliza a luz no fim do túnel, uma obra psicologicamente madura comandada por um cineasta visionário, com firme assinatura criativa, o grande Christopher Nolan.
O triste é que eu consigo imaginar boa parte da garotada que, não duvide nem por um segundo, vai pagar o ingresso apenas pelo questionável espetáculo visual da explosão da bomba, saindo decepcionada, não apenas neste aspecto puramente sensorial, já que o interesse do diretor é com as consequências existenciais da criação destrutiva na consciência do protagonista, como também com o que será enxergado como defeito, o foco intensamente didático nos diálogos, a longa duração, em suma, a competência do roteiro em, como é usual na filmografia de Nolan, corajosamente superestimar a inteligência do público.
O diretor costuma inserir seus personagens em contextos grandiosos, complicados, mas desta feita ele se reconcilia com a simplicidade noir de seus primeiros trabalhos, “Following” (1998) e “Amnésia” (2000), com a câmera próxima aos rostos, evidenciando as escolhas que fizeram um jovem e promissor estudante de mecânica quântica passar a angustiante segunda fase de sua vida se justificando por ter, com seus esforços, alterado definitivamente os rumos da História humana.
A fotografia do holandês Hoyte van Hoytema entende que a psique do protagonista, vivido impecavelmente por Cillian Murphy, dotado de uma imaginação extremamente fértil, pode ser o elemento que conduz a trama, opção estética que é desenvolvida com sensibilidade.
Ao internalizar a ação, a obra explora com brilhantismo a questão da responsabilidade moral, leitmotiv trabalhado pelo diretor até mesmo em “Batman – O Cavaleiro das Trevas” (2008), na sequência dos presos no barco, confrontando Oppenheimer com a elasticidade ética em diversas situações.
O roteiro, escrito pelo próprio Nolan, adapta com liberdade a biografia “American Prometheus: The Triumph and Tragedy of J. Robert Oppenheimer”, de Kai Bird e Martin J. Sherwin. O fascínio pelo tema é exposto no refinamento em cada detalhe técnico, como no embasbacante design de som, mas é na construção intimista das motivações do protagonista que reside o ouro da produção.
Um ponto brilhante é remeter, no relacionamento entre Oppenheimer e Lewis Strauss (Robert Downey Jr.), ao clássico “Amadeus” (1984), de Milos Forman. Vale destacar também os violinos frenéticos na trilha sonora composta pelo sueco Ludwig Göransson.
Nolan não se acanha, deixa claro seu posicionamento nos recortes históricos que seleciona, por exemplo, chega a ser debatida a ideia de que o físico era um agente soviético infiltrado, também se questiona a atitude do presidente democrata (esquerda) Harry Truman que, objetivamente, deu a ordem para a utilização da bomba, mas, uma elegante lição para a Hollywood de hoje, o resultado convida o espectador a raciocinar por conta própria.
“Oppenheimer” é uma cinebiografia magistral, complexa, inclusive em sua estrutura que alterna tempos cronológicos, um esforço de montagem verdadeiramente surpreendente. É o tipo de projeto que se beneficia em revisões.
Cotação:
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Excelente crítica, como sempre !! Grata por isso Octávio Caruso !! 👏👏👏