O sistema mundialmente estimula a nova geração a desprezar a memória cultural, atear fogo no passado, logo, o papel de qualquer profissional sério na área é remar contra a corrente, alimentando a valorização destes esforços artísticos preciosos, o estudo apaixonado necessário para formar um público emocionalmente maduro e criterioso, no intuito de tentar (ênfase no “tentar”) salvar os filhos do amanhã de uma realidade orwelliana desastrosa.
Antes da TV existir, os seriados eram exibidos nas salas de cinema, antes ou depois dos filmes, capítulos normalmente semanais que duravam cerca de 30 minutos, sempre com um gancho final, usualmente envolvendo o protagonista em uma situação de perigo extremo, que deixava o público salivando de ansiedade pela continuação. Todos os gêneros eram explorados, faroeste, ficção científica, policial, espionagem, aventura, terror, mistério, em suma, havia diversão para todos os gostos. Nas salas europeias, o formato era um pouco diferente, mais próximo do que seria hoje identificado como uma minissérie, episódios mais longos, nem sempre com ganchos, como no fundamental “Os Vampiros” (1915), do francês Louis Feuillade.
Os pais e os filhos voltavam para suas casas comentando as tramas, os jovens passavam a semana na escola imaginando várias possibilidades narrativas, naquele mundo menos imediatista, ninguém esquecia do que assistia em minutos, aquele entretenimento ficava gravado na mente por semanas, virava tema de discussão em grupos de amigos.
Os cinesseriados pioneiros nos Estados Unidos entre 1912 e 1923 eram protagonizados por heroínas corajosas como Pearl White, Mary Fuller e Kathlyn Williams, as tramas eram simplórias, repetitivas, mas o carisma das atrizes carregava nos ombros as produções.
O estilo se firmou mesmo no final da década de 30, com a contribuição inestimável de nomes como Yakima Canutt na coordenação das cenas de ação, favorecido também pelo recurso do cinema falado sendo executado com maior segurança técnica, em histórias ambientadas na selva, ou que contavam com peripécias aéreas, elementos que fascinavam as plateias, como “A Filha das Selvas” (1941), protagonizada pela belíssima Nyoka, vivida por Frances Gifford.
O sucesso destes personagens era tão avassalador que suas aventuras transcendiam as salas escuras, a criança brasileira acompanhava com carinho as adaptações em quadrinhos que eram lançadas em revistas que vendiam como pão quentinho nas bancas, como “O Guri”.
O aparecimento da TV nos lares enfraqueceu demais o fascínio dos cinesseriados, não era mais necessário sair de casa para desfrutar daquele entretenimento, o sofá da sala era mais confortável que a poltrona do cinema, por conseguinte, com a queda nas bilheterias, os estúdios abandonaram este formato que, sem exagero, formou boa parte dos grandes diretores da Nova Hollywood, basta ver a influência direta destas aventuras no trabalho de medalhões como Steven Spielberg e George Lucas, obras como “Os Caçadores da Arca Perdida” e “Guerra nas Estrelas” simplesmente não existiriam caso eles não tivessem vivido na infância a emoção dos cinesseriados.
Analisando de forma mais ampla, todas as produções recheadas de efeitos computadorizados que a garotada hoje consome devem muito aos esforços destes artistas pioneiros.
Eu selecionei 4 títulos que estão disponíveis no Youtube. Não há opção de legenda em português. Prepare a pipoca e boa sessão!
O Fantasma Voador (The Phantom – 1943)
Professor Davidson e sua filha Diana vão à África procurar pela Cidade Perdida de Zoloz, onde, segundo a lenda, está escondido um tesouro. Mas sua busca é impedida por um charlatão que deseja ter o tesouro só para si. Mais tarde a busca passa a ser dificultada pelo Dr. Bremmer, um criminoso internacional que planeja destruir a paz com as tribos nativas de Zoloz e construir uma base aérea secreta. Felizmente o Fantasma, noivo de Diana, é mais que um problema para os dois vilões.
The Mysterious Mr. M (1946)
Um cientista malvado conhecido como “Sr. M.” usa uma droga que desenvolveu chamada “hipnotreme” para ajudar a roubar equipamentos submarinos. O agente federal Grant Farrell é enviado para encontrar o vilão misterioso e impedir seus planos nefastos.
Guerra aos Gângsters (Gang Busters – 1942)
O detetive da polícia Bill Bannister (Kent Taylor), seu parceiro Tim Nolan (Robert Armstrong) e o chefe da Polícia Martin O’Brien (Joseph Crehan) investigam as atividades de Mortis e sua gangue, e descobrem que os crimes foram cometidos por homens que já haviam morrido há algum tempo.
Lost City of The Jungle (1946)
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, Sir Eric Hazarias (Lionel Atwill) dá início à Terceira Guerra Mundial. A sua busca pelo Meteorium 245, a única defesa prática contra a bomba atômica, o leva à mítica Pendrang.
Eu facilitei o seu garimpo cultural, selecionando os melhores filmes dentre aqueles títulos que entraram…
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No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não…
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