Críticas

Crítica de “Amor Esquecido”, de Michal Gazda, na NETFLIX

Amor Esquecido (Znachor – 2023)

Após perder a família e a memória, um ex-cirurgião (Leszek Lichota) tem uma oportunidade de redenção ao se reconectar com uma figura do passado.

O filme original, lançado em 1937, dirigido por Michał Waszyński, que adaptava o livro homônimo de Tadeusz Dołęga-Mostowicz, fez um sucesso tremendo na Polônia, recebeu duas continuações e uma competente refilmagem na década de 80, que é exibida com frequência na TV polonesa no feriado do Dia de Todos os Santos.

Você encontra estas obras (e as respectivas legendas em inglês) garimpando na internet, mas, infelizmente, grande parte do público, principalmente a preguiçosa e desinteressada massa moderna, dificilmente teria contato com esta bela história.

A excelente nova refilmagem, que acaba de estrear na Netflix, pode operar este milagre tão necessário nos sombrios dias de hoje, instigar o interesse pelo garimpo cultural.

O simbolismo de sua mensagem, evidenciado já nas primeiras cenas, mostrando o amor do protagonista pelos pacientes, não poderia ser mais atual, o valor inestimável do médico que abraça a causa por vocação, algo que relembra a importância de não permitir que a nobre profissão seja corrompida por esquemas criminosos, mentirosos, verdadeiramente monstruosos.

O respeitado cirurgião e professor Rafal, desorientado pela ausência da esposa e da filha, acaba sendo agredido por um bando de ladrões em um assalto, sobrevive contra todas as probabilidades, mas perde sua memória.

Nós somos levados então a acompanhar o homem, muitos anos depois, vagando como um mendigo na zona rural, ele segue sua vida iluminado apenas por uma residual sensação de propósito existencial, as suas aptidões em amenizar as dores de estranhos, ainda que inexplicáveis para ele em sua condição mental, brotam de seu coração naturalmente, evocando a poética visão da medicina como extensão do caráter no indivíduo.

É claro que a sua generosidade, a sua fama como curandeiro, vai atrair o ódio dos peões do império da dor, os canalhas de jaleco branco que entendem medicina como fonte de poder e glória, a semente do mal que destrói a preciosa credibilidade da profissão e gerou os absurdos grotescos que o mundo pôde testemunhar nos últimos três anos.

O ritmo contemplativo potencializa a dedicação do roteiro em desenvolver bem cada personagem secundário que é inserido na trama. A entrega de Lichota reforça no espectador a imediata empatia, as suas atitudes, sempre objetivando a proteção de outrem, sem pensar em remuneração financeira, sinalizam claramente o interesse da obra em resgatar no mundo o entendimento do que representa o Juramento de Hipócrates.

O eventual reencontro do pai com a filha não é uma grande surpresa, nem parece ser o foco, apenas um recurso emocionante que enaltece a linda mensagem principal.

Cotação:

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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