Superman 4 – Em Busca da Paz (Superman 4 – The Quest for Peace – 1987)
EUA e União Soviética entram em uma corrida armamentista que pode destruir a Terra, e Super-Homem (Christopher Reeve) decide intervir. Enquanto isso, Lex Luthor (Gene Hackman), seu arqui-inimigo, escapa da prisão e clona o Homem de Aço com material radioativo.
O produto final é problemático, ninguém questiona isto, mas estudar os bastidores da obra é fascinante. Você entende que o estrago teria sido muito menor se ele tivesse sido lançado como estava no papel.
Eu recomendo que você busque na internet a edição feita por um fã, intitulada “The Quest for Coherence”, uma versão estendida, com a inclusão de todas as cenas deletadas, mais de 30 minutos de material, além de imagens retiradas das páginas da adaptação do filme em quadrinhos, reconstruindo a ideia original, que foi prejudicada pelo inesperado corte no orçamento no meio das filmagens e pelas escolhas criativas dos executivos do estúdio após uma sessão de teste.
Qualquer pessoa minimamente criteriosa aponta alguns absurdos mais perceptíveis, cenas que abusam da suspensão da descrença, como a bandeira norte-americana fincada no solo lunar, o efusivo aplauso dos representantes políticos na ONU após o discurso sobre a imediata eliminação de todas as armas nucleares, o incrível passeio da personagem de Mariel Hemingway, uma humana comum, pelo espaço sideral, trajando esporte fino, ou o fio de cabelo poderoso do herói, capaz de sustentar um peso tremendo, sendo cortado por um simples alicate.
O caso é que um olhar mais gentil e respeitoso pode modificar a sua forma de encarar esta conturbada despedida do saudoso Christopher Reeve ao papel mais importante de sua carreira.
Os problemas citados, por exemplo, podem ser perdoados se você enxergar o roteiro pelo ponto de vista do menino Jeremy (Damien McLawhorn), o público-alvo de qualquer trama que envolva um adulto que voe. Até mesmo o desfecho da citada versão estendida, em que vemos o pequeno Jeremy voando com Superman no espaço e acenando sorridente para cosmonautas russos, passa a fazer mais sentido, o roteiro é uma fantasia na cabeça imaginativa de um menino sonhador.
Ele é o elemento principal da trama, algo que fica ainda mais evidente na versão estendida, os conflitos se desenvolvem quando o garoto, instigado por sua professora, propõe na sala de aula escrever uma cartinha para o herói alienígena pedindo para ele eliminar todas as armas nucleares no mundo. A sua visão coerentemente ingênua sobre a questão é o diapasão que dá o tom de tudo.
Quando se compreende este ponto, até mesmo a entrega excessivamente leve, verdadeiramente boba, de Gene Hackman como Lex Luthor, faz sentido, não incomoda mais a interação com seu sobrinho adolescente pateta, vivido por Jon Cryer. O segmento protagonizado pelo primeiro Homem Nuclear, vivido pelo britânico Clive Mantle, homenageando divertidamente o clássico “Frankenstein”, cortado na versão oficial, deixa ainda mais óbvio este direcionamento.
A sociedade atual, formada por adultos tão pateticamente infantilizados, pode achar esquisito e até querer me atirar ofendida seus bonequinhos, mas super-heróis dialogam unicamente com a nossa criança interna, uma etapa mágica da vida que deve ser resgatada com carinho nos bons momentos, mas não são exatamente o tipo de entretenimento ideal para mentes já formadas, emocionalmente maduras e psicologicamente saudáveis.
O primeiro filme, dirigido por Richard Donner, trabalhava o conceito com elegância, um tom épico, engrandecido por um elenco estupendo, encabeçado por um dos maiores atores de sua geração, o inesquecível Marlon Brando, visando encantar pais e filhos, um gesto lindo, proposta desafiadora para a época e que foi executada com brilhantismo. O resultado segue mágico e empolgante, sobreviveu muito bem ao teste do tempo.
Ele foi lançado em 1978, idealizado como resposta ao pessimismo que dominava as produções da época, como que um convite ao público adulto para rejeitar o cinismo por algumas horas e estabelecer novamente contato com aquela essência pura, ingênua e despreocupada.
Os filmes seguintes já não carregavam este verniz, eles se entregavam sem receio à chamada era de prata dos quadrinhos, que vai de 1956 a 1970, em que as revistas eram escritas pura e simplesmente para criancinhas. E, nestas aventuras, Superman participava das situações mais absurdas, o intuito era produzir diversão rápida e descartável que a garotada consumia quando não estava rodando pião na rua. O segundo filme, finalizado por Richard Lester, lançado em 1980, carregava no elemento do humor, que só foi potencializado ainda mais no terceiro, que contava com a participação do comediante Richard Pryor.
A recepção fraca de “Superman 3” (1983) e “Supergirl” (1984) nas bilheterias forçou os produtores a cancelar o quarto projeto. O próprio Reeve sinalizava em entrevistas que o personagem era uma página virada, ainda que muito querida por ele, em sua carreira.
A vida é feita de oportunidades, e os primos israelenses Menahem Golan e Yoram Globus, da Cannon, sabiam disso como poucos. Os dois se encontraram com um dos produtores, Ilya Salkind, durante um evento no Festival de Cannes de 1985, e, provavelmente entre um drinque e outro, compraram os direitos. O difícil agora seria, com o modelo de produção rápida e, no melhor dos sentidos, picareta, do estúdio, fazer o filme sair do papel.
Quando Christopher Reeve foi convocado, ele ficou cabreiro, o currículo da Cannon não inspirava confiança, muito menos a postura artística de seus donos. Os primos praticamente jogaram caminhões de dólares no quintal do ator, que, para a surpresa deles, afirmou não estar interessado neste retorno pelo aspecto financeiro.
Reeve tinha princípios, ele fez algumas exigências, participação direta no roteiro, possivelmente até a cadeira de diretor e, principalmente, o financiamento para um projeto que ele queria muito realizar, “Malandros de Rua” (Street Smart), em que ele viveria um jornalista perseguido por criminosos. E, claro, ele, que não era bobo, também aceitou os caminhões de dólares.
“Superman 4 – Em Busca da Paz”, quando analisado em sua proposta, levando em consideração a versão estendida, pode ser colocado em pé de igualdade ao terceiro filme, uma divertida celebração da era de prata dos quadrinhos.
Trilha sonora adaptada e conduzida por Alexander Courage, utilizando como base o trabalho do mestre John Williams:
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