Críticas

“Totò Contra Maciste”, de Fernando Cerchio

Totò Contra Maciste (Totò contro Maciste – 1962)

Totokamen (Totò) é um artista e ilusionista que se apresenta em diversas casas noturnas egípcias auxiliado por seu empresário, Tarantenkamen (Nino Taranto). Aproveitando-se de truques cafonas, ele finge ser filho do deus Amon.

Uma explicação necessária sobre o contexto desta obra. O cinema italiano da era silenciosa entregou pérolas do subgênero peplum (também conhecido como espada e sandália) como “Quo Vadis?” (1913) e “Cabíria” (1914), mas uma refilmagem do primeiro, lançada em 1924, fracassou nas bilheterias e fez com que a indústria do país amargasse vários anos de extrema dificuldade, até que Mussolini, com a inauguração do complexo de estúdios Cinecittà no final da década de 30, estimulou sobremaneira a produção artística, possibilitando que diretores enxergassem novamente o potencial financeiro destes grandes espetáculos.

O período fértil durou pouco, a Segunda Guerra Mundial deixou um rastro de destruição, vários estúdios foram bombardeados, e, por conseguinte, as salas passaram a exibir mais produções estrangeiras. O material que era extraído daquela terrível realidade, leia-se, o que se passou a chamar de neorrealismo italiano, conquistou o público, mas era fincado nos escombros da sociedade, não parecia haver espaço mais para projetos fantasiosos, divertidos.

Uma nova lei na década de 50 obrigou as companhias estrangeiras a gastar parte do dinheiro arrecadado nas bilheterias dentro do próprio país, trocando em miúdos, Hollywood se viu forçada a utilizar a paisagem (e a mão-de-obra) italiana, e, por este motivo, houve um boom de roteiros bíblicos neste período.

A festa foi boa, todo mundo se deu bem, o colorido dos épicos também ajudava na luta pela atenção do povo contra a ascensão da TV, mas após explorar bastante as possibilidades, no início da década de 60, as equipes, no popular, fizeram as malas e abandonaram o país, deixando para trás uma quantidade absurda de figurinos, objetos de cena, cenários, além de vários profissionais dedicados e competentes que precisavam trabalhar.

Fisiculturistas, com ou sem talento para atuação, passaram então a protagonizar aventuras divertidíssimas, vivendo heróis como Hércules, Maciste, Sansão, Ursus, entre outros, resgatando o amor do público italiano pelo cinema, lotando salas, algo que obviamente irritava os críticos e cineastas militantes.

O sucesso eventualmente conduziu ao desgaste da fórmula, os filmes eram produzidos a toque de caixa para suprir a demanda, logo, o nível de qualidade foi caindo vertiginosamente, até que ela se tornou motivo de piada. É neste momento que entra na história um dos cômicos mais respeitados de sua geração: Totò, nome artístico de Antonio Griffo Focas Flavio Angelo Ducas Comneno Porfirogenito Gagliardi De Curtis di Bisanzio.

Vale abrir um parêntese para aplaudir a inteligência criativa dos italianos, que souberam bem aproveitar os altos e baixos, sem deixar a peteca cair, basta ver que repetiram o mesmo esquema posteriormente, quando o faroeste espaguete deixou de lucrar, inserindo humor na receita, fazendo graça com a fórmula, como nos projetos protagonizados pela dupla Bud Spencer e Terence Hill.

Eu considero “Totò e Cleópatra”, lançado no ano seguinte, dirigido pelo mesmo Cerchio, uma obra superior, mas “Totó Contra Maciste”, que conta no roteiro com a participação de Bruno Corbucci, irmão mais novo do grande Sergio, merece crédito por ter tido a coragem de ousar desconstruir o peplum.

Um momento que simboliza perfeitamente a proposta é quando Maciste (Samson Burke) atira por engano uma pedra gigante no grupo errado de guerreiros e, logo depois, fazendo pose de pensador, pede choroso que ninguém force ele a pensar, já que não é o forte dele. Uma piada simples, previsível, mas que funciona.

  • Você encontra o filme com facilidade garimpando na internet.

Trilha sonora composta por Francesco De Masi:

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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