Críticas

Crítica de “Assassinos da Lua das Flores”, de Martin Scorsese

Assassinos da Lua das Flores (Killers of the Flower Moon – 2023)

Os assassinatos dados a partir de circunstâncias misteriosas na década de 1920, assolando os membros da tribo Osage, acabam desencadeando uma grande investigação envolvendo o poderoso J. Edgar Hoover, considerado o primeiro diretor do FBI.

Antes da análise crítica, um elemento precisa ser ressaltado. O timing do lançamento desta obra é impressionante, ele só é superado pela tremenda hipocrisia da indústria que a produz.

É curioso que artistas que se envolveram diretamente no esquema farsesco dos últimos três anos, apoiando o grave adoecimento forçado de inocentes enganados no mundo, um genocídio sem precedentes que, com sorte, será estudado com temor no futuro, estejam tentando dar lição de moral sobre o caso real ocorrido com os membros da tribo Osage, propositalmente envenenados por aqueles que fingiam fornecer proteção e que publicamente pregavam respeito por suas tradições. Pura dissonância cognitiva ou projeção inconsciente do sentimento de culpa? Vale a reflexão para os lúcidos ao final da sessão.

O roteiro, escrito por Eric Roth e o próprio Scorsese, adapta o livro-reportagem homônimo do jornalista David Grann. O recorte de época é favorecido pelo impecável trabalho de figurino e direção de arte, cada minuto exala credibilidade.

O elenco inspirado e visivelmente engajado contribui para conquistar a atenção do público na superior primeira hora, destaco a presença de Robert De Niro, que vive o ambicioso rancheiro que se autodenomina “Rei”, entregando uma atuação desprovida dos maneirismos da persona que usualmente ativa nos mais variados papeis. O ponto alto é Lily Gladstone, que vive uma das herdeiras Osage, ela verdadeiramente imerge na sua caracterização, transmitindo com sutileza as complexidades existenciais inerentes à sua personagem. Ao seu lado, o tipo aparentemente ingênuo defendido por Leonardo DiCaprio soa ainda mais como fraca caricatura, um tom abaixo do todo.

A forma como Scorsese finaliza a trama é brilhante, até mesmo na simbologia do epílogo, evidenciada na imagem do patrocinador na cortina vermelha do palco do programa de rádio que teatraliza o crime, uma marca de cigarro, o envenenamento celebrado à época, como se o próprio diretor estivesse sinalizando que através das gerações apenas os alvos mudam, os responsáveis dos atos mais grotescos escondem posteriormente suas atitudes posando ironicamente como aqueles que esclarecem o lamentável imbróglio, assinando com superioridade o doentio capítulo nas páginas da História.

“Assassinos da Lua das Flores” infelizmente peca em sua injustificada longa duração, quase 3 horas e 30 minutos, reduzindo com o inevitável cansaço emocional o efeito dramático de várias sequências, mas este é o estilo de Scorsese, a sua zona de conforto artística.

A tenacidade louvável deste gigante da arte aos 80 anos de idade merece aplausos de pé.

Cotação:

  • O filme acaba de estrear nas salas de cinema brasileiras.

Octavio Caruso

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