Críticas

“Golpe de Mestre”, de George Roy Hill, na LOOKE

Golpe de Mestre (The Sting – 1973)

Após o assassinato de um amigo em comum, o aspirante a vigarista Johnny Hooker (Robert Redford) junta-se ao velho Henry Gondorff (Paul Newman) para se vingar de Doyle Lonnegan (Robert Shaw), o cruel chefe responsável pelo crime. Hooker e Gondorff implementam um plano elaborado para que Lonnegan não descubra que está sendo enganado. O grande golpe começa a se desenrolar, mas as coisas não saem como planejaram e a destemida dupla faz improvisações de última hora.

O excelente roteiro, assinado por David S. Ward, buscou inspiração nos golpes reais perpetrados pelos irmãos Fred e Charley Gondorff, documentados por David Maurer no livro “The Big Con: The Story of the Confidence Man”, lançado em 1940.

A trama, que poderia se tornar confusa nas mãos de um diretor fraco, ganha pontos pelo delicioso senso de humor que esbanja desde o início, enfatizando o aspecto desafiador, logo, divertido, da rotina de indivíduos que, reconhecendo o farsesco inerente aos rituais sociais, trafegam livremente no submundo.

A direção de George Roy Hill é impecável, apoiando-se na química em cena da dupla Paul Newman e Robert Redford, aproveitando o sucesso estrondoso de “Butch Cassidy” (1969). A cumplicidade entre os dois transforma diálogos aparentemente comuns em grandes momentos.

O esforço da direção de arte e de figurino (da lendária Edith Head) na reconstrução da época é impressionante, a paleta de cores na fotografia elegante de Robert L. Surtees mistura amarelo, bege e sépia, reforçando visualmente o clima proposto, mas a história só funciona de forma tão agradável, com suas muitas reviravoltas, graças ao talento de Hill, que, vale ressaltar, iniciou a carreira no teatro.

Um elemento que ajuda sobremaneira a execução é a marcante trilha sonora. O saudoso compositor Marvin Hamlisch teve a sensibilidade de resgatar pérolas do ragtime, escritas por Scott Joplin, como a incrível “The Entertainer”, de 1902, estabelecendo imediatamente a atmosfera perfeita para a imersão emocional do público.

Eu destaco também a montagem de William Reynolds que faz uso generoso de transições de cena características do cinema das décadas de 20 e 30, um detalhe que agrega ainda mais legitimidade ao período que homenageia.

O cenário é o território desolador pós-quebra da Bolsa de Nova York de 1929, em que o povo desempregado, boa parte dele empurrado para a criminalidade, enfrentava a Lei Seca para tentar se anestesiar.

A jogatina ilegal, nesta realidade desesperançada, acabou se tornando a oportunidade tangível de reverter os problemas. Um mafioso, vivido com segurança por Robert Shaw, fica indignado quando descobre que um de seus parceiros havia sido vítima de vigaristas simplórios de uma pequena cidade, por conseguinte, ele, por uma questão de honra e movido por pura vaidade, decide eliminar aqueles que, aos seus olhos, não passam de bandidinhos mequetrefes.

A mensagem mais clara da obra é que, por vezes, a maneira mais eficiente de vencer a teatralidade do mal é elaborar meticulosamente um cenário teatralizado ainda mais brilhante. Como é evidenciado nos créditos de abertura, a vida é um palco, ainda que muitos infelizmente atravessem a breve experiência sem enxergar os fios dos titereiros.

O golpe de mestre é, por motivos nobres, superar na esperteza, leia-se, utilizando o mesmo modus operandi do adversário, aqueles que buscam com todas as forças prejudicar o seu caminho.

Cotação:

  • Você encontra o filme na plataforma Looke, e, claro, garimpando mídias físicas, VHS, DVD e Blu-ray.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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