Crítica de “Segredos de Um Escândalo”, de Todd Haynes

Segredos de Um Escândalo (May December – 2023)

Inspirado em uma história real, o filme conta a história de Gracie (Julianne Moore) e seu marido Joe (Charles Melton), que é 23 anos mais novo que ela. O relacionamento dos dois começou quando Joe ainda era uma criança, causando um escândalo nos jornais. Vinte anos depois de seu romance ter chegado às manchetes, o casal vive uma vida tranquila. No entanto, suas rotinas viram de cabeça para baixo quando a atriz Elizabeth Berry (Natalie Portman) vem estudar Gracie para viver seu papel no cinema.

O diretor Todd Haynes, do excelente “Carol” (2015), escolheu desta feita resgatar uma história que estampou várias revistas de fofocas norte-americanas no final da década de 90, o caso da professora Mary Kay Letourneau, que namorava um aluno de 12 anos de idade.

O maior mérito da obra é utilizar o caso real apenas como ferramenta para elaborar uma ácida crítica ao sistema de interesses que espetaculariza desvios graves de conduta, disfarçando sob um verniz frágil de artística sinalização de virtude os instintos mais baixos, tão reprováveis quanto, e, por vezes, até piores que aqueles posicionados em destaque na folha objetivando vender mais jornais.

A imprensa é culpada diretamente por fomentar a teatralização da dor, mas o alvo óbvio do roteiro é a indústria cinematográfica, representada pela atriz, vivida pela Natalie Portman. Há uma cena em que acompanhamos uma conversa telefônica dela com o diretor italiano da produção, sutilmente percebemos que ela chantageia o homem, insinuando que revelará tudo sobre o caso romântico dos dois para a esposa dele, o público descobre então que ela é oportunista, profundamente narcisista, alguém que claramente utiliza sua beleza para conseguir o que deseja, um caráter doentio.

É curioso como Portman, de forma deslumbrada, busca imitar nas cenas os trejeitos de Moore, um toque inteligente que potencializa a admiração torta que a personagem sente pela Gracie. Ela é fruto da cultura dos tabloides, algo que dominou a década de 90, e que ajudou a formar a dessensibilizada sociedade atual, com valores distorcidos e esvaziada de princípios.

A trilha sonora composta por Marcelo Zarvos, captando a essência de humor negro, brinca constantemente com o aspecto sensacionalista rasteiro, realçando momentos com um senso de urgência conscientemente infantilizado, folhetinesco.

“Segredos de Um Escândalo” prende sua atenção desde os primeiros minutos, você não sente o tempo passar, qualidade cada vez mais rara no cinema moderno.

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