Críticas

Crítica de “Os Rejeitados”, de Alexander Payne

Os Rejeitados (The Holdovers – 2023)

Um professor (Paul Giamatti) mal-humorado acaba sendo forçado a permanecer num colégio interno para cuidar de um grupo de alunos que não tem para onde ir durante as férias de Natal. Entre os alunos está Angus, um adolescente (Dominic Sessa) rebelde que está lidando com a ausência do pai. Durante a tarefa, um vínculo improvável entre os dois é estabelecido.

O diretor Alexander Payne, responsável por pérolas como “As Confissões de Schmidt” (2002), “Sideways – Entre Umas e Outras” (2004) e “Nebraska” (2013), retorna exibindo a mesma segurança artística, um senso de humor refinado que, no mundo moderno absurdamente infantilizado e dessensibilizado, está infelizmente fadado a se tornar incompreensível.

Agradeçamos a ele por corajosamente se manter íntegro à beira do abismo, sem fazer concessões mercadológicas, o roteiro de “Os Rejeitados”, assinado por David Hemingson, ousa até ser otimista, bebendo da fonte sentimentalista e da estética da Hollywood do início da década de 70. O resultado é potencializado pela interpretação inspirada de Paul Giamatti.

O desprezo que o cansado professor exala por aquele estudante que não cumpre as metas é gradativamente substituído pela compaixão.

O convívio forçado convida à inesperada identificação, o terceiro elemento, representado pela cozinheira da escola, vivida por Da’Vine Joy Randolph, que está em processo de luto pelo filho, agrega ainda mais gentileza ao tempero da obra, uma qualidade rara no cinema atual.

O segundo ato presenteia o público com momentos que, sem forçar a mão na emoção, acalentam o coração, cenas conduzidas com intensa sinceridade, explorando a amizade que germina quando pessoas sofridas decidem abandonar as travas sociais e compartilhar seus medos, facilitando a compreensão de suas atitudes inadequadas, quase sempre, esforços hercúleos para esconder profundas cicatrizes existenciais.

Vale ressaltar a presença de Cat Stevens na trilha sonora, com a tocante “The Wind”, um toque sutil que remete diretamente ao clássico “Ensina-me a Viver” (Harold and Maude – 1971), de Hal Ashby, obra que é homenageada em sua essência.

Um filme simples, com uma mensagem linda, uma grata lufada de ar fresco.

Cotação:

  • O filme estreou nesta semana nas salas de cinema brasileiras.

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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