Pobres Criaturas (Poor Things – 2023)
A jovem Bella Baxter (Emma Stone) é trazida de volta à vida pelo cientista Dr. Godwin Baxter (Willem Dafoe). Querendo ver mais do mundo, ela foge com um advogado (Mark Ruffalo) e viaja pelos continentes. Livre dos preconceitos de sua época, Bella exige igualdade e libertação.
A estranheza é a zona de conforto do diretor grego Yorgos Lanthimos, responsável por pérolas como “O Sacrifício do Cervo Sagrado” (2017), “Dente Canino” (2009) e “O Lagosta” (2015). O roteiro de “Pobres Criaturas”, assinado por Tony McNamara, é baseado no livro homônimo escrito por Alasdair Gray.
Caso você desconheça esta filmografia, talvez saia irritado da sessão, a experiência sensorial proposta pelo realizador, que usualmente aborda nos roteiros a autonomia corporal, desta feita explora de forma bastante apelativa a lascívia na jornada de autodescoberta da protagonista.
O conceito que a obra defende é problemático, a protagonista, que remete diretamente ao literário monstro criado por Mary Shelley em “Frankenstein”, representa a eliminação do ego, a busca intensamente infantilizada e inconsequente pela plena satisfação dos prazeres, a filosofia hedonista que conduz à bestialização, a retirada de todas as travas morais, um caminho que não é mentalmente saudável e que invariavelmente leva à destruição.
Há uma personagem, vivida pela Suzy Bemba, que explicita ainda mais o discurso político com viés de esquerda. E, claro, todos os personagens masculinos são execráveis em vários aspectos. O maior problema neste direcionamento é que, principalmente no segundo ato, as escolhas narrativas abandonam totalmente a sutileza, a doutrinação infelizmente agrega ao tempero algo incomum na carreira do diretor, a previsibilidade, você começa a riscar entediado várias soluções da agenda progressista/globalista que dominou a indústria nos últimos anos. Até o senso de humor usual de Lanthimos é prejudicado.
A assinatura estética, o ponto alto da obra, reforça a posição do público como o indivíduo curioso que espia através da fechadura, reproduzindo o interesse de um bebê, desprovido de qualquer amarra aos rituais sociais, exatamente como Bella, literalmente aprendendo a dar os primeiros passos. E, quando pensamos que ela tem a idade mental de uma criança, todas as sequências apelativas envolvendo o relacionamento dela com os adultos, conscientes desta realidade, acabam se tornando ainda mais grotescas.
A longa duração não se justifica. O terceiro ato é enfraquecido pelo desgaste geral, os exageros, a mentalidade doentia que move a trama, o choque gratuito, a tecla do aprendizado da Bella sendo batida até exaurir qualquer traço de interesse genuíno.
O elenco é muito competente, com destaque para o sempre corajoso Willem Dafoe, o trabalho de figurino e a direção de arte evocam com brilhantismo a era vitoriana, mas o resultado é constrangedor no pior dos sentidos.
Cotação:
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