No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não é entregar uma longa análise crítica, algo que toma bastante tempo, mas sim, uma espécie de drops cultural, estimulando o seu garimpo (lembrando que só serão abordados filmes que você encontra com facilidade em DVD, streaming ou na internet). O formato permite que mais material seja produzido, já que os textos são curtos e despretensiosos.
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Marcha Nupcial (The Wedding March – 1928)
Um príncipe vienense malandro (Stroheim) concorda em se casar por dinheiro e posição para ajudar sua família, depois se apaixona por uma garota (Fay Wray) pobre.
A utilização na trilha sonora da clássica marcha composta por Mendelssohn costumava ser lembrada nos textos sobre cinema que li na adolescência, lembro que busquei a fita VHS nas locadoras da região, sem sucesso, e que só tive contato com a obra na época do início da TV por assinatura.
Hoje você encontra o filme com facilidade no Youtube, mas o difícil é encontrar adultos que esbocem um mínimo interesse genuíno pelo autoaprimoramento cultural autodidata. A maioria, principalmente no Brasil, se contenta em apenas sinalizar o mesmo publicamente, eternizando sua preguiça com o batido: “Tem na Netflix?” ou, aquele ainda mais irritante, “Onde encontro?”, ao invés de anotar o título, após a leitura do texto, e começar pelo Google o seu prazeroso garimpo no mundo maravilhoso da internet.
A parceria entre o ator/diretor austríaco Stroheim e a MGM estava ruindo após os problemas nos bastidores do grandioso “Ouro e Maldição” (Greed – 1924), o seu preciosismo não respeitava os limites de orçamento e ultrapassava os prazos, uma conduta insustentável na Hollywood do período, em que os produtores mandavam mais do que tudo. Ele, questionando até mesmo seu potencial criativo, decidiu se afastar por um tempo.
A proposta de financiamento de um produtor independente, Pat Powers, deu origem ao projeto que evocava sua terra natal, elemento que foi importante em sua decisão, conduzindo o público à Viena de 1914, nos últimos dias do Império Austro-Húngaro, no reinado de Francisco José.
Um testamento do talento de seu criador é que, apesar de se tratar de uma obra incompleta, já que “The Honeymoon” foi destruída em um incêndio, “Marcha Nupcial”, com uma linda sequência colorida mostrando a celebração do Corpus Christi, segue forte em sua mensagem, evidenciada no amargo desfecho, uma crítica brutal aos rituais sociais alicerçados em um mundo de fingimento que desumaniza a pureza do amor.
O público da época não recebeu bem o filme silencioso, lançado na transição para o cinema falado, mas a justiça foi feita, o tempo foi muito generoso com o resultado.
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