No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não é entregar uma longa análise crítica, algo que toma bastante tempo, mas sim, uma espécie de drops cultural, estimulando o seu garimpo (lembrando que só serão abordados filmes que você encontra com facilidade em DVD, streaming ou na internet). O formato permite que mais material seja produzido, já que os textos são curtos e despretensiosos.
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A Maçã (Sib – 1998)
Zahra e Masume são duas garotas de 11 anos que viviam trancadas em casa pelos pais até a intervenção de uma assistente social, e relatam neste docudrama como viviam e o desejo de brincar fora dos portões de casa.
A cineasta Samira Makhmalbaf é filha de um dos nomes mais importantes do cinema iraniano, Mohsen Makhmalbaf, de pérolas como “Um Instante de Inocência” (1996), e, com apenas 17 anos de idade, ela foi a mais jovem a concorrer no Festival de Cannes.
O curioso é que ela pediu sobras de película de um trabalho recente dele, utilizando como desculpa um despretensioso experimento em curta-metragem, e, para a surpresa do veterano profissional, o projeto tomou corpo e ousou até ser poético, inserindo no contexto embrutecido, áspero, das rígidas leis do Irã, a simbologia da maçã, símbolo da vida e do conhecimento para seu povo.
“A Maçã” carrega no roteiro a assinatura do pai, um esforço criativo bastante corajoso, levando em conta o tema, uma crítica direta à forma como as mulheres são tratadas na tradição islâmica. Samira soube da notícia pelos jornais e, em tempo real, visitou a família e propôs a ideia da obra. Ela não ditava os diálogos, apenas esquematizava a coreografia da câmera e estimulava as meninas, até por imitação, já que elas haviam ficado com retardo mental graças ao longo encarceramento.
A prisão domiciliar era justificada pelos pais idosos por uma passagem de um texto religioso que defendia que as jovens são como pétalas que fenecem ao contato do sol. A mesma situação, nas mãos de qualquer cineasta, seria vista como a oportunidade perfeita para um melodrama manipulativo, sensacionalista, mas o interesse de Samira está na reflexão racional, sem julgar a atitude dos pais, ela apenas dá voz aos envolvidos.
Ao final da sessão, fica difícil não constatar que casos absurdos como este brotam em um sistema intensamente problemático. Não há um culpado específico, os frutos podres caem de uma árvore, uma estrutura que precisa ser examinada com atenção.
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