No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não é entregar uma longa análise crítica, algo que toma bastante tempo, mas sim, uma espécie de drops cultural, estimulando o seu garimpo (lembrando que só serão abordados filmes que você encontra com facilidade em DVD, streaming ou na internet). O formato permite que mais material seja produzido, já que os textos são curtos e despretensiosos.
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Uma Voz Para Milhões (Yes, Giorgio – 1982)
Um famoso cantor de ópera italiano, Giorgio Fini (Luciano Pavarotti), perde sua voz durante a turnê americana. Ele busca tratamento com uma especialista em garganta, a médica Pamela Taylor (Kathryn Harrold), e acaba se apaixonando por ela.
O único trabalho do saudoso Luciano Pavarotti no cinema foi muito apedrejado em sua estreia, o roteiro é problemático, não há como negar, mas, levando em consideração a proposta da obra, dirigida pelo grande Franklin J. Schaffner (de tesouros como “Papillon”, “O Planeta dos Macacos” e “Patton”), você, que manteve sua lucidez nos últimos três anos, começa a se questionar se não havia um motivo mais complexo por trás de tantas críticas negativas tão agressivas.
Eu tive contato com a obra no período da faculdade, graças aos garimpos na internet, nunca achei nas locadoras na época do VHS, também não me recordo de exibições televisivas, mas, como um apaixonado por ópera desde a infância, lembro de ter adquirido o LP da trilha sonora em um passeio por uma loja de discos após uma manhã entediante na escola.
A MGM fez uma aposta comercial audaciosa, já merece pontos por isto, o mundo estava naquele momento iniciando o processo de infantilização financiado pelos titereiros do caos.
Hoje é impossível imaginar um roteiro que dedique tempo em cenas emolduradas pela beleza da “Ave Maria”, de Schubert, ou a “Matinatta”, de Leoncavallo, mas, principalmente, duvido que haja a possibilidade de um clímax que seja ambientado durante uma apresentação da estupenda Turandot, de Puccini, e, vale destacar, talvez seja a versão mais linda da insuperável ária “Nessun Dorma”.
Pavarotti não é um ator competente, mas a intenção é explorar a sua persona, o seu carisma, a trama, simples e até bobinha, funciona como veículo para presentear o público com sua voz, com uma arte que, caso os adultos sensatos e mentalmente saudáveis não tomem coragem e retomem logo o controle do mundo, está fadada a ser cancelada, destruída, esquecida.
Trecho do filme:
Tema composto por John Williams, com letra de Alan e Marilyn Bergman:
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