Críticas

Dica do DTC – “Coração Fiel”, de Jean Epstein

No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não é entregar uma longa análise crítica, algo que toma bastante tempo, mas sim, uma espécie de drops cultural, estimulando o seu garimpo (lembrando que só serão abordados filmes que você encontra com facilidade em DVD, streaming ou na internet). O formato permite que mais material seja produzido, já que os textos são curtos e despretensiosos.

***

Coração Fiel (Coeur Fidèle – 1923)

Marie (Gina Manès) era uma órfã adotada por um dono de bar e sua esposa no porto de Marselha, agora ela é duramente explorada por eles como serva no bar. Ela é desejada por Paul (Edmond van Daële), um homem teimoso, mas está secretamente apaixonada por Jean (Léon Mathot), um estivador.

O diretor polaco-francês Jean Epstein é lembrado pelos cinéfilos mais dedicados por sua adaptação de “A Queda da Casa de Usher” (1928), de Edgar Allan Poe, que carregava no roteiro a assinatura de Luis Buñuel, mas ele entregou outras pérolas impressionistas até mais engenhosas, como o curta “O Fazedor de Tempestades” (1947) e, antecipando elementos do que seria reconhecido posteriormente como realismo poético, o brilhante “Coração Fiel”, que, com seu experimentalismo narrativo, influenciou bastante cineastas como René Clair e Carl T. Dreyer.

Epstein tinha apenas 26 anos de idade quando filmou a obra, o seu entusiasmo criativo ao explorar as possibilidades técnicas é perceptível na maneira que utiliza a câmera e a edição.

Ele brinca com os recursos imagéticos estabelecidos, propondo, por exemplo, flashbacks não-lineares, ou exagerando a utilização da dupla exposição. E, quando uma cena pedia um reforço sensorial, ele simplesmente prendeu a câmera em um carrossel em alta velocidade, para captar no rosto da protagonista a frustração desorientadora. A reação do público da época deve ter sido impactante, provavelmente causando o mesmo incômodo que a personagem sentia naquele momento.

O centenário “Coração Fiel” segue, em revisão, forte como sempre, atemporal, um verdadeiro tesouro que merece ser redescoberto.

  • Você encontra o filme com facilidade garimpando na internet.
Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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