Crítica de “A Sala dos Professores”, de Ilker Çatak

A Sala dos Professores (Das Lehrerzimmer – 2023)

Carla Nowak (Leonie Benesch) é uma professora de matemática e educação física que se destaca pelo seu perfil idealista dentro do sistema educacional. Em seu novo trabalho no ensino médio, um de seus alunos é suspeito de realizar roubos, e agora Carla decide entrar fundo na questão.

O roteirista/diretor alemão Ilker Çatak elaborou, com Johannes Duncker, uma alegoria muito eficiente enquanto aula de suspense, sem respostas fáceis, sustentada brilhantemente por uma atriz em momento inspiradíssimo.

O idealismo da jovem professora, vivida pela Leonie Benesch, entra em conflito com a realidade cada vez mais absurda de um mundo que está sendo levado ao colapso.

O sistema educacional como microcosmo, uma comunidade que desvia constantemente do caos auxiliada por rituais que dependem da autoridade dos adultos sobre as crianças, gestos que se repetem mecanicamente, metas que precisam ser cumpridas, um experimento comportamental complexo que se estende ao relacionamento do corpo docente com os pais. Uma situação que nunca foi fácil, mas que se tornou intensamente problemática nas últimas décadas.

A trama evidencia como este ambiente pode ser um terreno perigoso, quando é envenenado por ideologias tortas e por uma tendência obviamente mal-intencionada de se conceder poder às fragilizadas mentes em formação. Neste cenário, até mesmo o indivíduo com as melhores e mais nobres intenções pode provocar uma corrente de infortúnios com consequências imprevisíveis.

A escolha clara por fugir de qualquer explicação ao final é corajosa, denota tremenda segurança artística. Pessoas acusadas de um crime que podem não ter cometido, um filho inteligente que sofre para proteger a honra de sua mãe, pais negligentes que anseiam por uma oportunidade para a boa e velha sinalização pública de virtude, e, como leitmotiv visual, um cubo mágico, cada suave giro nos dedos pode aumentar a tensão e afastar ainda mais a verdade.

O espectador se sente na pele da protagonista, a única que verdadeiramente está aprendendo algo importante naquele local. Uma cena que parece retirada de um filme de terror mostra o ovo da serpente no aparentemente inofensivo grupo de jornalismo estudantil. A assinatura sonora rascante de Marvin Miller reforça bem a escalada da ameaça.

“A Sala dos Professores” é, desde já, um dos melhores filmes do ano.

Cotação: