Críticas

“O Mal Que Nos Habita”, de Demián Rugna, na NETFLIX

O Mal Que Nos Habita (Cuando Acecha la Maldad – 2023)

Dois irmãos (Ezequiel Rodríguez e Demián Salomón) encontram um homem infectado pelo demônio prestes a dar à luz ao próprio mal. Na tentativa de se livrar deste homem, os irmãos acabam ajudando a desencadear o próprio inferno.

O terror, na literatura e no cinema, encontra dificuldade de aceitação popular no Brasil. Eu enxergo isto na prática diária como crítico, textos sobre obras do gênero são pouco acessados e, quase sempre, suscitam comentários negativos em tom agressivo.

Analisando de forma bem sincera, constato que esta reação não é despertada por algum critério técnico ou qualquer embasamento cultural, mas sim, por um instinto infantil que não foi bem trabalhado na maturidade. Adultos que se sentem incomodados com a temática e que condenam um roteiro por ser eficiente em sua proposta.

O meu gênero de formação na infância e adolescência foi o terror, estudo desde sempre as suas várias vertentes, logo, sofro com a baixíssima qualidade do que é jogado desta seara nas salas de cinema, a infantilização que atingiu esta arte como um todo foi especialmente desastrosa neste terreno outrora tão fértil para mentes criativas.

O roteirista/diretor argentino Demián Rugna já havia se mostrado uma exceção à regra no competente “Aterrorizados” (2017), mas elevou ainda mais o nível com “O Mal Que Nos Habita”, entregando algo que remete em tom e nas atuações ao período de ouro da década de 70. Clima pesado, desconcertante e opressivo desde os primeiros segundos, sem fazer concessões mercadológicas e sem pagar pedágio ideológico.

As cenas mais violentas são trabalhadas de forma suja, cruel, direta, sem sustinhos bobos e previsíveis, uma atitude pessimista, refletindo o espírito desta época grotesca em que vivemos.

A ameaça no roteiro não é uma questão religiosa, não desperta por ausência de fé. Cada omissão, na regra estabelecida pela obra, afeta diretamente o todo, retira a trava moral e permite a entrada do mal.

E esta ameaça não pode ser enfrentada por instituições ou elementos sobrenaturais, o sistema falhou miseravelmente neste sentido, apenas a autodisciplina pode proteger os personagens.

Cotação:

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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