Muitos ainda nutrem preconceito com o cinema de terror, ignorando a sua importância fundamental na formação da sétima arte.
Naquele tempo, as pessoas pagavam alguns trocados nas chamadas Nickelodeons, primitivas salas que exibiam este material inovador praticamente como atração de parque de diversões. A graça era ver o trem chegando na estação, um casal se beijando, uma praça movimentada, situações comuns, a imagem em movimento, sem som, já era algo mágico.
O francês Georges Méliès, ilusionista, enxergou nesta ferramenta a possibilidade de entreter com mais substância, utilizando o cinematógrafo como veículo para trucagens de palco. Um simples acidente na captação de uma imagem viabilizou o primeiro “efeito especial”, ele poderia sumir e reaparecer em outro ponto do cenário em questão de segundos. O cineasta então incrementou suas ideias, levou homens para a lua, transformou-se em um “homem orquestra”, tocando todos os instrumentos, em suma, expandiu o terreno criativo.
Nos tempos atuais, colegas críticos pedantes e boa parte dos acadêmicos, traçaram uma linha divisória, tudo o que é popular não presta, valorizam experimentos frios, umbilicais, entediantes, alimentaram a equivocada definição: “filme de arte”, exatamente porque entendem cinema como muleta intelectual, realidade antagônica à sua origem.
O coração desta arte, apesar dos gêneros terem sido marginalizados ao longo das décadas como produtos menores, foi desde o início estabelecer algum tipo de contato emocional com o público, fazer rir, chorar, empolgar… E Méliès, dentre tantos trabalhos fascinantes, criou o cinema de terror com “Le Manoir du Diable”, nascido do desejo de amedrontar.
Eu selecionei 15 títulos importantes, muitos deles injustamente pouco citados até mesmo pelos cinéfilos mais dedicados, da fase inicial, os primeiros 30 anos. E, claro, para facilitar o garimpo, todos estão disponíveis no Youtube.
Le Manoir du Diable (1896, de Georges Méliès)
Com a ajuda de um caldeirão mágico, Mefistófeles evoca uma variedade de personagens sobrenaturais.
Le Spectre Rouge (1907, de Segundo de Chomón)
Um mago demoníaco tenta realizar seu ato em uma gruta estranha, mas é confrontado por um bom espírito que se opõe a ele.
The Thieving Hand (1908, de J. Stuart Blackton)
Um homem de um braço adquire um membro artificial que ele não pode controlar.
La Légende du Fantôme (1908, de Segundo de Chomón)
Uma jovem mulher que passa por um cemitério à noite é subitamente surpreendida por uma voz que sai de uma das sepulturas. Ela deseja fugir, mas o fantasma não permite.
Le Voleur Invisible (1909, de Segundo de Chomón)
Um homem compra o romance “O Homem Invisível” de ‘G.H. Wells’ em uma livraria e encontra a receita da poção de invisibilidade. A oportunidade faz o ladrão.
Frankenstein (1910, de J. Searle Dawley)
Versão recentemente RESTAURADA. Frankenstein, um jovem estudante de medicina, tentando criar o ser humano perfeito, acaba criando um monstro.
Пиковая дама (The Queen of Spades – 1910, de Pyotr Chardynin)
Baseado no conto de Pushkin: quando seus amigos estão jogando, Germann sempre gosta de assistir, mas ele nunca participa. Um dia, enquanto ele vê o jogo deles, ele descobre que uma condessa idosa guarda um segredo que pode fazer ele ganhar uma fortuna.
Dr. Jekyll and Mr. Hyde (1912, de Lucius Henderson)
O Dr. Henry Jekyll experimenta meios científicos de revelar o lado oculto e sombrio do homem e acaba liberando um assassino de dentro de si.
Superstition Andalouse (1912, de Segundo de Chomón)
Uma jovem imagina uma vingança contra um cigano que a incomodou.
Das Cabinet des Dr. Caligari (1920, de Robert Wiene)
O hipnotizador Dr. Caligari usa um sonâmbulo, Cesare, para cometer assassinatos. Um marco do expressionismo alemão.
Der Golem, Wie er in Die Welt Kam (1920, de Carl Boese e Paul Wegener)
Na Praga do século XVI, um rabino cria o Golem – uma criatura gigante feita de barro. Usando feitiçaria, ele dá vida à criatura para proteger os judeus.
Körkarlen (1921, de Victor Sjöström)
Na véspera de Ano Novo, o motorista de uma carruagem fantasmagórica obriga um homem bêbado a refletir sobre sua vida egoísta e desperdiçada.
Nosferatu, eine Symphonie des Grauens (1922, de F.W. Murnau)
O vampiro Conde Orlok manifesta interesse em uma nova residência e na esposa do agente imobiliário Hutter. Versão de “Drácula”, “Nosferatu” é um dos filmes mais importantes na história do gênero.
The Phantom of the Opera (1925, de Rupert Julian)
Um compositor louco e desfigurado busca romance com uma adorável e jovem cantora de ópera. A interpretação magistral de Lon Chaney é das mais lembradas.
The Magician (1926, de Rex Ingram)
Um mágico, buscando criar vida, descobre que precisa do “sangue de uma virgem” para continuar seus experimentos. Ele envia seu assistente anão para escolher a garota certa. Pérola inexplicavelmente esquecida, um GRANDE filme.
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