Não Fale o Mal (Gæsterne – 2022)
Uma família dinamarquesa (Morten Burian e Sidsel Siem Koch) visita uma família holandesa (Fedja van Huêt e Karina Smulders) que eles conheceram durante as férias. O que deveria ser um final de semana idílico começa lentamente a desmoronar à medida que os dinamarqueses tentam permanecer politicamente corretos diante da gradativa sucessão de absurdos.
A inferior (em todos os sentidos) refilmagem norte-americana estreia nesta semana nas salas de cinema brasileiras, logo, considero importante resgatar o brilhante original dinamarquês, um dos melhores roteiros de terror psicológico dos últimos anos.
Eu sinceramente sinto pena de quem vai ter o primeiro contato com a história através da refilmagem, não revelarei pontos importantes neste texto para preservar a experiência de quem vai buscar esta pérola do roteirista/diretor Christian Tafdrup. Você pode perceber que eu nem adicionei ao final o trailer, a ignorância total é uma bênção na proposta da obra.
O impacto sensorial faz com que a sua mente digira a mensagem após a sessão, a brutal crítica comportamental sustentada pela atitude catatônica que o casal dinamarquês adota no terceiro ato não poderia ser mais atual.
Eu li muitas críticas de colegas apedrejando esta postura que consideravam pouco crível, em suma, eles se mostravam inconscientemente incomodados com o reflexo no espelho, já que, no mesmo período, eles acatavam sem questionamento lógico os absurdos grotescos e danosos da farsa sanitária global, denunciando os vizinhos e familiares que não abraçavam as regras impostas pelo sistema. O fato de que muitos ainda não acordaram para o óbvio é a prova ululante de que a crítica social que o filme propõe é certeira.
A permissividade diante do injustificável retira todas as travas morais, a ingenuidade da ovelha que facilita o ataque do lobo. Na trama, a criança praticamente manda nos pais, o destino poderia ser outro, caso os adultos tivessem simplesmente ignorado o lamento da menina no carro (algo que inteligentemente se mostra fruto de um equívoco infantil), mas isto seria politicamente incorreto.
Recusar um convite improvável de pessoas que acabaram de conhecer? Jamais! Como a cartilha progressista nefastamente defende: se todos são heróis e vilões, ninguém é herói nem vilão. Confie em qualquer um, não seja precavido, preocupe-se mais em salvar as baleias da Groenlândia e fazer malabarismos retóricos para tentar argumentar de forma coerente que é vegetariano ingerindo peixe, do que em verdadeiramente amadurecer.
“Não Fale o Mal” é impiedoso nas respostas que encontra, a inteligente escolha pela curta duração torna ainda mais objetiva e contundente a sua reflexão.
Trilha sonora composta por Sune “Køter” Kølster:
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