No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não é entregar uma longa análise crítica, algo que toma bastante tempo, mas sim, uma espécie de drops cultural, estimulando o seu garimpo (lembrando que só serão abordados filmes que você encontra com facilidade em DVD, streaming ou na internet). O formato permite que mais material seja produzido, já que os textos são curtos e despretensiosos.
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O Pequeno Polegar (Tom Thumb – 1958)
Em uma terra imaginária, o lenhador Jonathan (Bernard Miles) concorda em cortar a árvore mais velha da floresta. Em troca, a rainha (June Thorburn) lhe concede três desejos. Após desperdiçar dois deles, o terceiro faz aparecer Tom (Russ Tamblyn), uma criança do tamanho de um polegar.
Eu tenho percebido que o gênero musical se tornou motivo de deboche para a geração atual, não apenas uma questão de gosto pessoal, a garotada grisalha que coleciona bonequinhos afirma categoricamente que este tipo de filme é sinônimo de fracasso, reduzido em seus argumentos frágeis a “uma bobagem em que o personagem, do nada, interrompe a cena e começa a cantar”. A sensibilidade necessária para se apreciar os esforços envolvidos na produção destes espetáculos foi extirpada junto com a elegância e a boa educação.
Ainda bem que, na infância, eu pude aproveitar um pouco este mundo que se perdeu, o conceito do musical era algo comum, símbolo de refinamento cultural, os clássicos no gênero eram exibidos na Sessão da Tarde. “O Pequeno Polegar” é uma das primeiras lembranças que tenho neste sentido, eu me recordo do encantamento, da sensação gostosa que aquelas melodias despertavam, pura magia.
O carinho por este gênero me trouxe, pouco tempo depois, a ópera e a admiração pelos tenores, o amor por música clássica, os filmes com Elvis Presley e Mario Lanza, aquelas comédias na praia com Frankie Avalon e Annette Funicello, os espetáculos da MGM, Fred Astaire e Ginger Rogers, entre tantos outros. Nada soava esquisito, nada era antigo aos meus olhos, tudo era uma incrível descoberta.
Na adolescência, estudava a fundo o tema em livros, boa parte deles em inglês, garimpados em sebos. Anos depois, a internet trouxe um universo de possibilidades, expandindo esta “biblioteca”, finalmente tive acesso a pérolas que não haviam sido lançadas em VHS por aqui.
O curioso, algo que nunca vou compreender, sinto que exatamente no momento em que este novo recurso libertário apareceu, a massa brasileira simplesmente perdeu o interesse pelo autoaprimoramento existencial. E chegamos aos patéticos dias de hoje, em que o Zé das Couves debocha do “doido cantando no meio da cena” enquanto berra alcoolizado na frente da TV reclamando do juiz que não deu a falta no Jão ao derrubar o Tico-Tico na grande área. Segue o jogo, neste ritmo acelerado de bestialização, vamos ver quanto tempo a nação vai se aguentar de pé com este material humano…
Retornando ao filme, ressalto a importância de Russ Tamblyn na equação de sucesso, o carisma dele carrega nas costas o roteiro. Eu destaco também no elenco a presença sempre competente de Terry-Thomas e Peter Sellers.
O resultado da obra foi tão bom para o estúdio, que deram carta branca para o diretor húngaro George Pal, que estava estreando em longas, escolher a sua próxima produção. Ele, realizando um sonho que sempre nutriu, optou pela adaptação do clássico de H.G. Wells, “A Máquina do Tempo” (1960).
Trailer:
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