Críticas

Crítica de “Tesouro”, de Julia von Heinz

Tesouro (Treasure – 2024)

Ruth (Lena Dunham), jornalista americana, viaja para a Polônia com seu pai Edek (Stephen Fry) para visitar os lugares de sua infância. Mas Edek, sobrevivente do Holocausto, resiste a reviver seu trauma e sabota a viagem criando situações involuntariamente cômicas. A trama é inspirada em uma história real.

Este bonito filme infelizmente está estreando em poucas salas de cinema, sinal de que não há mais demanda para roteiros psicologicamente maduros, com sorte terá alguma chance quando entrar futuramente em alguma plataforma de streaming.

O trabalho anterior da diretora alemã Julia von Heinz, “E Amanhã… O Mundo Todo” (2020), apesar de problemático em sua estrutura, suscitava corajosa reflexão sobre os malefícios do pensamento revolucionário, criticando duramente a esquerda.

O curioso é que fazia isto de forma inconsciente, já que, na tentativa de entregar uma carta de amor à militância juvenil, acabou expondo sem filtro os aspectos mais doentios, violentos, infantilizados e incoerentes da agenda progressista. Boa parte do público percebeu que a homenagem tinha dado errado e demonstrou irritação com a obra.

A boa notícia é que desta vez a cineasta evitou polemizar e focou em registrar uma história real profundamente humana ocorrida no início da década de 90, a reconexão emocional entre pai e filha, tendo como cenário uma visita ao campo de concentração no terceiro ato, o doloroso e indesejado resgate de memórias que o homem buscou eliminar durante a vida.

O roteiro adapta a autobiografia “Too Many Men”, da australiana Lily Brett, há uma nobre preocupação em manter o tom leve, os atritos intergeracionais tomam lugar de destaque desde o início, com momentos cômicos muito eficientes. A aborrecida jovem Ruth enxerga a viagem apenas como uma fria tarefa burocrática, logo, sente dificuldade em entender o desconforto do caloroso pai, que se preocupa mais em fazer amizade com estranhos e aprecia cada detalhe da experiência.

Quando a história naturalmente pede maior seriedade, a transição é realizada de forma delicada, mas sem debruçar no melodrama fácil, um ponto positivo que merece ser destacado, a sobriedade respeitosa dá o peso necessário ao que é transmitido, proporcionando fortes diálogos, em suma, um material acima da média no tema.

O segundo ato desperdiça tempo martelando o conflito entre pai e filha, algo que prejudica um pouco a imersão do público, mas o sensível resultado compensa.

Cotação:

  • O filme estreia nesta semana nas salas de cinema brasileiras.

Trailer:

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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