Críticas

Dica do DTC – “Shitô No Densetsu”, de Keisuke Kinoshita

No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não é entregar uma longa análise crítica, algo que toma bastante tempo, mas sim, uma espécie de drops cultural, estimulando o seu garimpo (lembrando que só serão abordados filmes que você encontra com facilidade em DVD, streaming ou na internet). O formato permite que mais material seja produzido, já que os textos são curtos e despretensiosos.

***

Shitô No Densetsu (1963)

Uma jovem que foi evacuada para Hokkaido com a sua família durante a guerra recebe uma proposta de casamento do filho do chefe da aldeia, mas recusa devido aos seus atos bárbaros durante a guerra. Ela e sua família são expulsas da aldeia, mas seu pretendente se recusa a desistir.

Eu costumo receber mensagens de leitores perguntando onde encontro os filmes. O primeiro ponto que muitos falham em compreender é que eu não sou um palpiteiro no tema, além de ser cineasta, produtor independente, escritor, ator e roteirista, atuo profissionalmente como crítico de cinema desde 2008, mas já escrevia e estudava o assunto desde muito novo, atravessei a adolescência garimpando em locadoras de vídeo e, com o despertar da internet, utilizei a ferramenta para facilitar este processo.

E, como um apaixonado por esta arte, estou sempre aprendendo algo novo, logo, respondendo a questão do início, trocando em miúdos, eu encontro porque eu PROCURO. Quando há o real interesse, os obstáculos tombam, o problema é que as pessoas hoje, principalmente no Brasil, querem que você coloque a comida na boca e ainda mastigue por elas, para que não gastem os dentes.

É a era da preguiça e do desinteresse. Quando um brasileiro pensa em sinalizar publicamente que está evoluindo existencialmente, ele não pensa duas vezes, posta logo fotos na academia de ginástica. A preocupação é apenas com a imagem, nunca com o interior, o que importa é a estética, nunca o conteúdo. Corpos lindos, perfumes caros, um carrão na garagem, mas nada no cérebro. Nas discussões, quando fogem de temas rasteiros como futebol e fofocas da TV, eles são os especialistas em “achismos” sobre qualquer área, mas sabem muito pouco, já que dá trabalho, demanda dedicação genuína, foco, disciplina.

Retornando ao filme, perceba como funciona o meu método, como eu “encontro” a obra. Na época, eu estava preenchendo uma lacuna em meu fascínio pelo cinema japonês, já tinha na coleção em mídia física pérolas do diretor Keisuke Kinoshita, como “A Balada de Narayama” (1958) e “Vinte e Quatro Olhos” (1954), já tinha conseguido baixar na internet outros títulos dele, como “As 24 Pupilas” (1954), “A Flor do Incenso” (1964) e “Amor Imortal” (1961), mas tinha um clássico muito elogiado que foi mais difícil.

Toda semana, por um bom tempo, eu buscava online a obra, sem sucesso, até que, enquanto estava caçando a filmografia de outro diretor, “Shitô No Densetsu” finalmente apareceu, uma versão com legendas em inglês. A imagem não estava muito boa, mas pude assistir ao filme. Hoje, em questão de segundos, você encontra ele na internet com ótima imagem, e, claro, caso não seja fluente em inglês, também consegue baixar a legenda em português.

Aproveito o ensejo para dar mais um exemplo do que ocorre quando você REALMENTE quer algo. Há casos de filmes dinamarqueses que não encontrava as legendas em inglês, espanhol, italiano ou português. O que eu fiz? Baixei a legenda em dinamarquês e, utilizando o google translator, traduzi linha a linha. Mas quando você quer só posar publicamente de interessado, você vai nos comentários de qualquer filme bastante conhecido e pergunta: “Tem na Netflix?”

Eu sei que estou divagando demais, mas acho válido utilizar esta oportunidade para tentar fazer você entender que a raiz de todos os males que afligem esta sociedade está no reflexo do espelho. No momento em que o indivíduo verdadeiramente decide abandonar a sinalização vazia e abraçar o real interesse, tudo muda, a pedra é atirada no lago. O amor pela cultura é a semente. O respeito pela arte é fundamental.

O título internacional da obra é “A Legend or Was It?”, também conhecida como “Legend of a Duel to the Death”, ela inicia em cores, mostrando a rotina aparentemente pacífica do vilarejo, enquanto uma narração informa que algo terrível aconteceu naquele local décadas atrás, algo tão vergonhoso que assombra todos. Na transição para o preto e branco, somos levados em flashback ao período crepuscular da Segunda Guerra Mundial. O que se desenrola é um fabulesco suspense, tenso, que evidencia como pessoas tranquilas podem se tornar bestiais quando manipuladas por psicopatas.

No elenco, a presença poderosa da veterana Kinuyo Tanaka, além da Shima Iwashita e da Mariko Kaga, mas destaco também o grande Bunta Sugawara, mais conhecido pela brilhante parceria com o diretor Kinji Fukasaku.

  • Você encontra o filme com facilidade garimpando na internet.

Trailer:

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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