Críticas

Crítica de “Farol da Ilusão”, de Matty Brown, na NETFLIX

Farol da Ilusão (The Sand Castle – 2024)

Presa em uma ilha deserta, uma família (Nadine Labaki, Ziad Bakri, Riman Al Rafeea e Zain Al Rafeea) enfrenta uma luta cruel pela sobrevivência. Mas o passado volta para assombrá-los, provocando momentos dolorosos.

  • No texto, revelo a surpresa do filme, logo, recomendo que seja lido após a sessão.

Este filme me trouxe um triste choque de realidade. Como crítico, assisto a vários filmes por semana, o nível de qualidade do cinema mundial nos últimos cinco anos caiu sobremaneira, já abordei isto em alguns textos.

Quando começou a sessão do libanês “Farol da Ilusão”, senti logo nos primeiros minutos que estava diante de algo especial, mas também pressenti que a recepção do público, principalmente o brasileiro, seria amarga.

O roteiro propõe uma experiência primordialmente sensorial, fica claro pelas escolhas na montagem que se trata de uma alegoria. O exemplo mais simples que encontro como comparação é o belo “As Aventuras de Pi” (2012), de Ang Lee, que, vale ressaltar, foi apedrejado na estreia pelo povo.

Compreendendo o conceito, fiquei maravilhado com a forma como a trama encontrava maneiras delicadas de dar pistas do que verdadeiramente estava acontecendo.

Ao final da sessão, corri para indicar o título em uma lista, planejava escrever a crítica dele com tranquilidade no dia seguinte. Aí entra o choque de realidade. Horas depois de postada a lista, reparei vários comentários negativos, alguns até em tom agressivo, em suma, detestaram a obra.

Analisando com mais atenção os comentários, os argumentos utilizados, verifiquei o que já pressentia, a massa se revoltou porque não entendeu nem a primeira camada da trama. E olha que o título nacional ainda dá uma mastigada absurda neste sentido, o título original (Castelo de Areia) é muito mais elegante. Neste momento senti que precisava preparar a crítica com outro direcionamento, antes de pensar em analisar, eu teria que explicar o que o desfecho evidencia, de forma bem didática.

Tudo o que vemos na tela é a imaginação da menina Jana no bote salva-vidas enfrentando a insuportável realidade. Ela perdeu tudo, a única fagulha que a mantém respirando é a sua criatividade. Ela sente culpa, presenciou horrores indizíveis, mas o seu instinto de sobrevivência, como o farol, luta para se manter ativo.

O que realmente precisa ser analisado é o baixo nível cognitivo do brasileiro. A questão é grave, o tema é espinhoso, mas é preciso ser discutido com seriedade. O que houve com o raciocínio lógico e a sensibilidade deste povo? Será que é falta de concentração? Não pode ser só isto.

O desprezo pela leitura ajuda a explicar, mas é algo mais complexo. Não há mais nem o interesse básico em procurar entender, antigamente as pessoas ainda sentiam um pouco de vergonha, agora parece que sentem orgulho, esbanjam agressividade, como se quisessem punir aquele que ousou pensar.

“Farol da Ilusão” é um filme lindo, extremamente delicado, que encontrou um caminho lúdico para trabalhar os traumas psicológicos irreversíveis nas mentes dos pequenos que vivenciam o cotidiano das guerras em qualquer parte do mundo, seres indefesos, puros, inseridos no caos. O esforço do diretor Matty Brown merece aplausos de pé.

Cotação:

Trailer:

Octavio Caruso

Viva você também este sonho...

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