Eu VIVO filmes e livros desde a infância, dependo da absorção da cultura como dependo do oxigênio.
Não há um único dia em que eu não acorde pensando de alguma forma em algo relacionado aos dois temas. Eles estão ligados em meu inconsciente diretamente ao PRAZER que sinto no ato de ler vários livros ao mesmo tempo, assistir ao filme, estudar sobre as obras, garimpar os títulos desejados na internet ou nos sebos, cada ínfima descoberta agrega mais prazer à experiência.
Um dia em que não adiciono uma semente nesta terra úmida é um dia sem sentido, tempo perdido, o único objetivo em minha jornada é o constante aprendizado, uma vida intelectual motivada pelo prazer que esta escolha existencial traz, o senso de propósito genuíno, tangível, apaixonante.
O povo brasileiro definitivamente não compreende este caminho, na prática de meus quase 42 anos de vida, conheci poucas pessoas que até admiravam a atitude, mas exibiam uma lista de justificativas que impediam a execução da tarefa. A mais recorrente é a falta de tempo. As redes sociais ajudam a quebrar esta desculpa.
O tempo é a mesa que o indivíduo utiliza para servir os seus pratos favoritos. Há tempo para milhões de fotos na academia de ginástica, há tempo para beber várias cervejas geladas enquanto desenrola uma conversa fiada com amigos, há tempo para sinalizar bondade em milhões de mensagens genéricas de “Que dia mais lindo…”, há tempo para longos Carnavais e viagens pensadas apenas como sinalização de status social, em suma, há tempo para encaixar na rotina qualquer atividade que a pessoa verdadeiramente valorize em seu íntimo.
O frustrante denominador comum é sempre o vazio, o conforto imediatista e ilusório, a busca por propósito nos lugares errados, os sorrisos largos e forçados à sombra de olhos sem brilho.
Uma sociedade formada nestes alicerces simplesmente não pode dar certo, nada mais importa, a política (na discussão e na prática) será sempre o martelo na mão daquele que não enxerga o prego, qualquer mudança positiva de comportamento será tolhida, as boas intenções serão consumidas pelas chamas do desprezo.
Se não enxerga o autoaprimoramento cultural e intelectual constante como algo prazeroso (leia-se, não é a ponte para algo, mas sim, o próprio objetivo), a pessoa pode ter acesso ao melhor sistema educacional do mundo, não vai funcionar, sem semente, nada germina.
O amor pelo conhecimento é a força motriz de uma sociedade mentalmente saudável. O problema que enxergo no Brasil é que a massa se preocupa apenas com o elemento estético, o “parecer ser”.
Quando somos crianças, buscamos a adequação ao ambiente. O adulto brasileiro que busca se adequar, acaba (inconscientemente) dependente da ilusória satisfação emocional em práticas vazias, afinal, ele não quer ser o “esquisito” que prefere uma noite tranquila com um bom livro, ele precisa torcer pelo seu time de futebol (por conseguinte, ele precisa gostar de futebol), ele precisa acompanhar o programa de TV do momento, ele precisa postar diversas fotos na academia de ginástica, ele precisa copiar e colar padrões de comportamento nas redes sociais, ele precisa ter material para alimentar a conversa fiada do dia seguinte.
É um modus operandi psicologicamente exaustivo, que leva inevitavelmente à frustração. Esta é a raiz de todos os problemas da nação, sem exagero retórico, da grosseria no trânsito ao sistema político. O brasileiro realmente acredita que amadureceu só porque inseriu o tema “política” em suas conversas diárias, ele apenas se atirou em uma piscina olímpica sem saber nadar.
Esta é a raiz de todos os problemas que afligem o Brasil, esta é a verdade sem filtros. Você quer mudar esta realidade?