A Volta dos Mortos-Vivos (The Return of the Living Dead – 1985)
Quando dois funcionários de um depósito médico lançam acidentalmente um gás mortal no ar, os vapores fazem com que os falecidos ressuscitem como zumbis.
Caminhando pelas ruas do Rio de Janeiro nestes intermináveis dias de Carnaval, testemunhando cenas grotescas nos bloquinhos, protagonizadas por uma horda desprovida de propósito de vida e conceitos básicos de boa educação, tive a ideia de escrever sobre esta pérola que marcou a minha infância, aluguei a fita VHS diversas vezes na “RG Vídeo” de Vila Isabel.
“A Volta dos Mortos-Vivos”, a estreia cinematográfica altamente segura de Dan O’Bannon, ótimo exemplo de filme que foi beneficiado no árduo teste do tempo, os elementos cômicos e satíricos da obra só melhoram a cada revisão.
O roteiro utiliza o tema do zumbi como metáfora esperta para a intensa alienação da juventude (e, neste aspecto, a crítica está mais atual do que nunca), representada pelo patético grupo que invade o cemitério buscando diversão. O infantilizado flerte com a finitude, simbolizado no discurso da personagem vivida pela Linnea Quigley, que ecoa inteligentemente no momento posterior em que seu sonho macabro se realiza, evidencia a perigosa desconexão com a realidade.
Algumas cenas são verdadeiramente brilhantes, desconstruindo as convenções estabelecidas nos trabalhos do diretor George A. Romero, principalmente “A Noite dos Mortos-Vivos” (1968) e “Despertar dos Mortos” (1978), como quando os zumbis engendram uma estratégia simples e infalível para manter o suprimento de cérebros frescos.
O conceito criado por O’Bannon para a necessidade alimentícia dos mortos-vivos é mordaz, a destruição do cérebro como alívio para a dor de uma existência sem sentido. Analisando a forma como os jovens (em teoria) vivos se comportam nas cenas, não há diferença no modus operandi, os dois grupos buscam conforto ilusório na aniquilação da mente.
Tema musical composto por Francis Haines:
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