Missão: Impossível (Mission: Impossible – 1996)
Um agente (Tom Cruise) americano sob suspeita de deslealdade, deve descobrir e expor o verdadeiro espião sem a ajuda de sua organização.
Eu nasci em 1983, logo, não acompanhei a exibição no Brasil da série clássica criada por Bruce Geller, lembro vagamente da refilmagem de 1988 no horário nobre da Globo no início da década de 90, provavelmente assisti a alguns episódios no amanhecer da TV a cabo, através do canal USA, mas lia bastante sobre ela nas revistas “Cinemin”, “Video News” e “Set”, várias matérias foram feitas à época do lançamento da adaptação cinematográfica. Quando a série foi finalmente lançada em DVD, corri para adquirir a primeira temporada.
Tom Cruise, que era fã da série na juventude, estreou como produtor com esta pérola do suspense, dirigida com o esmero usual pelo grande Brian De Palma.
O carinho de Cruise com o projeto já era perceptível, mas se tornou ainda mais óbvio ao passar dos anos, no momento em que este texto está sendo escrito, ele acaba de lançar o trailer definitivo da oitava (e última) aventura.
E, mais pé no chão que os esforços posteriores, este primeiro trabalho se beneficia pela envolvente construção de clima. Há sequências de ação embasbacantes, mas o foco do roteiro assinado por David Koepp e Robert Towne está em fazer o público se sentir como o protagonista, a câmera não atua como um narrador confiável, você precisa se agarrar aos seus instintos para tentar decifrar o esquema.
Uma simples faca de punho negro é o leitmotiv, símbolo da quebra de confiança, a inteligência de Ethan Hunt é testada a cada situação, considero brilhante a cena em que ele confronta intelectualmente seu algoz no terceiro ato, fingindo ter mordido a isca, enquanto a montagem explora sua mente calculadamente reordenando as peças no tabuleiro. Outro ótimo momento é quando o agente desnorteia um dos traidores utilizando um truque de mágica. Estas cenas aparentemente tranquilas entregam muito mais tensão do que a icônica perseguição final no trem-bala ou o assalto na sede do FBI.
A trama, emulando Hitchcock, choca o espectador logo nos primeiros 15 minutos, descartando brutalmente vários personagens importantes. O recurso força você a compreender que não há rede de proteção, tudo pode acontecer.
O filme se mostra melhor a cada revisão, afinado no diapasão dos grandes clássicos da espionagem, com um senso estético seguro e um elenco motivado.
Créditos iniciais ao som da trilha clássica composta por Lalo Schifrin: