O Caminho dos Sonhos (Der traumhafte weg – 2016)
O filme pode ser tudo, menos entediante. Billy Wilder, simplesmente um dos maiores nomes da história do cinema, defendia este argumento. O projeto pode ser umbilical, ou “de arte”, péssima expressão utilizada por pedantes para definir aqueles títulos que eles utilizam como muleta na afirmação vazia de ilusória superioridade, mas a experiência não precisa ser entediante. É, acima de tudo, uma tremenda falta de empatia cobrar ingresso para induzir seus espectadores ao sono. A roteirista/diretora Angela Schanelec, com “O Caminho dos Sonhos”, entrega uma excelente opção para insones crônicos.
Ela utiliza o método de atuação minimalista bressoniano com seu elenco, os rostos sem demonstrar qualquer emoção, com a diferença de que o saudoso diretor francês Robert Bresson se preocupava em tornar interessante o conteúdo, em suma, havia sentido na execução do estilo. A trama explora o relacionamento de um casal de músicos de rua, uma violonista e um cantor viciado em heroína, estabelecendo uma analogia espelhada com outro casal, trinta anos depois, em vias de separar, uma atriz e um antropologista. Não há preocupação com o desenvolvimento das motivações dos atos, a câmera apenas captura em longos planos e com pouca movimentação vestígios de suas ações. Em alguns momentos somos levados a crer que estamos admirando por vários minutos uma fotografia still, até que percebemos os olhos do personagem piscando, claro, levando em consideração que os nossos próprios olhos estejam abertos.
A artificialidade domina cada cena, não há foco narrativo, tudo não passa de uma longa repetição de imagens sem propósito, feita sob medida para aquele metido a cinéfilo cult arrogante enxergar e dissertar de forma prolixa sobre cada detalhe na costura da Roupa Nova do Rei. Se você já superou esta fase insegura adolescente de autoafirmação intelectual, passe longe desta obra.
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