Eraserhead (1977)

Henry Spencer (Jack Nance) tenta sobreviver da indústria de vírus, de sua raivosa namorada (Charlotte Stewart) e dos gritos de seu filho, um bebê mutante.

Eu poderia buscar explicar pretensos significados para cada cena, mas acredito que a melhor forma de experimentar este filme é entregando-se ao seu próprio caos, deixando-se ser dominado pelas imagens. Entender que basicamente o roteiro reflete a crise existencial de um adolescente que busca progredir em seu sonho profissional, mas se vê impedido por uma inesperada gravidez de sua namorada.

David Lynch passava por este problema na época em que iniciou os rascunhos (o roteiro completo tinha apenas vinte e uma páginas), potencializando toda sua angústia em seu trabalho. Corajosamente autobiográfico, o projeto incluía um bebê mutante (sua filha Jennifer Lynch havia nascido com deformações nas mãos, o que o abalou psicologicamente), assim como adultos afetados pela radioatividade. Ele simplesmente embala seus medos em um envoltório onírico perturbador (com clara influência das pinturas do irlandês Francis Bacon, que por sua vez, inspirou-se bastante em cenas de “O Encouraçado Potemkin”, de Eisenstein), que parece querer deixar o espectador tão desconfortável quanto seu próprio protagonista.

O exótico jantar na casa da namorada (o momento em que simbolicamente ele será aceito na nova família), com o sogro direcionando-lhe o sorriso mais antinatural possível (bizarro), enquanto sua sogra alterna frieza com tentativas de seduzi-lo (questionando-o sobre sua relação com sua filha), retrata a perturbação psicológica de Henry. As imagens vão se tornando cada vez menos realistas (chegando ao seu ápice com os “inesquecíveis” frangos), ao passo em que o personagem vê-se mais indefeso perante aquele destino.

Quando a estranha mulher que mora no aquecedor aparecer cantando, o espectador já estará irremediavelmente preso, assim como o protagonista. No ápice deste caos visual, a cabeça do jovem é utilizada como matéria-prima para a fabricação de borrachas (“Eraserhead”), simbolizando o desejo dele em apagar seus medos, amadurecer sem dor.

Um pesadelo kafkiano daqueles que fazem você acordar no meio da noite e buscar o interruptor.



Viva você também este sonho...

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