Você Nunca Esteve Realmente Aqui (You Were Never Really Here – 2017)
Joe (Joaquin Phoenix), veterano de guerra, ganha a vida resgatando jovens mulheres presas em cativeiros. Após uma missão mal sucedida em Manhattan, a opinião pública se torna contra ele e uma onda de violência se abate na região.
A roteirista/diretora Lynne Ramsay, de “Precisamos Falar Sobre Kevin”, adaptando com esperta concisão o livro de Jonathan Ames, com o auxílio inestimável do sempre competente Joaquin Phoenix, abraça uma estrutura fragmentada, com montagem quase subliminar, que inteligentemente opta por desorientar o espectador, alternando entre presente, passado e alucinações, apostando em tentar levar o público para dentro da mente do protagonista, abordagem similar à pérola “Henry”, de 1986, resultando em uma experiência sensorialmente perturbadora que expande a discussão proposta por Scorsese no clássico “Taxi Driver”, obra que claramente serviu de inspiração, sobre a forma fetichista como a doentia sociedade enxerga a violência.
Os enquadramentos frequentemente colocam o protagonista estático diante de elementos em movimento rápido e constante, como trens, inseridos entre a câmera e o homem, enfatizando visualmente a sua consciência de que vive em estado letárgico numa espécie de limbo existencial, preso psicologicamente aos traumas do passado, com a assinatura sonora da trilha, composta por Jonny Greenwood, da banda “Radiohead”, remetendo à uma simetria computadorizada, robótica, propositalmente sem espaço para arroubos criativos, emoldurando a rotina torturante autoimposta como forma de punição.
Joe exibe melancólica vulnerabilidade, apesar de agir impiedosamente com suas vítimas, sempre rápido. O roteiro, com poucos diálogos, explora os momentos de tensão que conduzem às missões, os olhares perdidos do homem no espelho, como que buscando reconhecer os rastros esmaecidos da pureza de outrora, a doçura desajeitada que a trama apresenta na cena em que ele resgata com a mãe fragilizada uma canção infantil.
Não há catarse nas sequências mais brutais, filmadas com frieza distante, sem recursos estilísticos que possam satisfazer a expectativa popular, o desejo primitivo do público pela ação, o fascínio pelo choque. O sangue, neste caso, atua como ferramenta purificadora.
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