A Vida é Bela (La Vita è Bella – 1997)
Ambientada na dura realidade da Segunda Guerra Mundial, é uma comovente fábula Chapliniana de amor e fantasia, que conta a história de um homem (Roberto Benigni) que usou a imaginação e seu infatigável espírito para salvar aqueles a quem mais amava.
Um dos meus argumentos repetidos na época da premiação cinematográfica mais popular é que a sua própria existência trabalha contra a plena apreciação desta arte. Ao injetar no subconsciente dos cinéfilos menos dedicados o impulso baixo da disputa ilógica, comparando batatas com percevejos, celebra o vitorioso, joga na lata de lixo da História os concorrentes e coloca em descrédito todos os outros projetos que não foram lembrados.
O conceito equivocado de “isto não é filme para Oscar” se tornou um mantra defendido por colegas críticos tontos e civis que querem posar de entendidos apenas uma vez por ano.
“A Vida é Bela” foi muito prejudicado no Brasil exatamente por causa das manchetes na imprensa que alimentavam nas entrelinhas o ódio por esta sensível pérola, já que se tratava da concorrência mais forte que havia contra o filme brasileiro, “Central do Brasil”, na esmola anual dada pelos norte-americanos para a produção internacional. O italiano ganhou a estatueta e, até hoje, tem gente por aqui que torce o nariz para ele.
Este foi o projeto mais pessoal de Roberto Benigni, que protagonizou, dirigiu e roteirizou com Vincenzo Cerami, inspirado em seu próprio pai, Luigi, que passou dois anos em um campo de concentração nazista, e, que, para não apavorar seus filhos, compartilhava suas lembranças com muito senso de humor.
O clima descontraído de todo o primeiro ato é precioso na construção da realidade cativante que será destruída com a invasão dos alemães na cidade. E, sempre vale lembrar, tudo começou quando os nazistas defenderam a necessidade de um passaporte sanitário, pois afirmavam que os judeus transmitiam doenças.
O intenso investimento emocional do público que desemboca na catarse promovida no terceiro ato se dá pela sinceridade no olhar, pela pureza no romance sensível que brota entre o falastrão Guido (Benigni) e a professora Dora (Nicoletta Braschi, esposa do diretor na vida real), que culmina no nascimento de Giosué (Giorgio Cantarini).
Não há interesse algum em agradar os pseudointelectuais esnobes, a estética trabalha a favor da narrativa, sem floreios técnicos. O sentimentalismo existe sem pudor, inteligentemente temperado na trama com o carisma inegável de seu idealizador.
“Estamos numa equipe super ruim, que grita sem cessar. Quem tem medo perde pontos. Nestes três casos, todos os pontos são perdidos: um ponto para quem chorar, dois pontos para os que querem ver a mãe, três pontos para os que têm fome e pedem lanche.”
A forma criativa como o quixotesco pai lida com a situação mais terrível e consegue rapidamente se adaptar às circunstâncias é inspiradora. A trama torna a fábula crível ao mostrar este traço da personalidade dele já fervilhante no cortejo à mulher amada, um desafio relevante que ele supera sem sinal de desânimo.
Quando ele vê a pilha de corpos e compreende que está nas mãos de monstros doentios, o seu psicológico rapidamente transmuta o medo natural em instrumento de revide tão caótico (e, por conseguinte, incontrolável) quanto a força opressora. Ele protege seu filho ao ludicamente resgatar em si mesmo a doce essência infantil. O enfrentamento com a comédia é basilar na filosofia judaica, lição aprendida com louvor por Chaplin (em “O Grande Ditador”) e Benigni.
“A Vida é Bela” resistiu muito bem ao teste do tempo, apesar de notar certo desequilíbrio tonal (compreensível), sendo um dos raros exemplos de ousadia no tema. É filme para ser abraçado, querido e recomendado, visto e revisto várias vezes.
Cotação:
Um dis filmes mais lindos que já vi e revi várias vezes.
Sensacional.
Um filme tão lúdico e didático, trabalhei numa instituição De menores, como era da supervisão pedagógica, coloquei esse filme para os alunos assistirem… Foi um sucesso!
É um dos clássicos do cinema, na minha opinião.