O Caçador de Dotes (A New Leaf – 1971)
Patife (Walter Matthau) falido precisa encontrar uma mulher rica para se casar em seis semanas. Seu objetivo se concentra numa botânica (Elaine May) desajeitada que está tentando encontrar uma nova espécime de vida de planta.
Há um despretensioso tom farsesco evidenciado em cenas como a do protagonista pilotando seu automóvel enquanto se despede da riqueza, potencializado pela entrega hilariamente desamparada de Matthau, ou, mais claramente, naquela que inicia a obra, insinuando um drama hospitalar, quando, na realidade, o homem está numa garagem aguardando o conserto de sua Ferrari 275 vermelha. A patética reação dele ao enxergar no reflexo do espelho as reações humilhantes à sua falência, literalmente de queixo caído, ainda nos primeiros 15 minutos, reforça ainda mais este adorável elemento cartunesco.
“Não tenho habilidades, recursos ou ambições. Tudo o que sou – ou era – é rico, e é isso que sempre quis ser. Eu não entendo, por que isso aconteceu comigo, por quê? Eu estava tão feliz.”
O patife, como ele mesmo afirma, jamais pensou que se interessaria por uma mulher, toque corajoso para a época, mas se vê forçado a caçar uma endinheirada como ato de desespero para resgatar seu status na sociedade, só não contava com a possibilidade dela se apaixonar genuinamente. Alguns momentos são brilhantes em sua simplicidade, como a sequência em que o novo casal tenta desajeitadamente entender como ela deve vestir corretamente um traje em estilo grego, uma tentativa de impressionar o marido que só poderia dar errado após a chocante descoberta de que ele se preocupou em pedir duas camas separadas.
O injustamente esquecido “O Caçador de Dotes”, roteirizado/dirigido pela grande Elaine May, é simplesmente uma das melhores comédias da década de 70.