Os Girassóis da Rússia (I Girasoli – 1970)
A história de um casal separado pela Segunda Guerra. Após anos sem notícias, Giovanna (Sophia Loren) viaja para a Rússia em busca do marido, Antonio (Marcello Mastroianni), atravessando cidades e campos de girassóis. Quando enfim ela o encontra, percebe que algo mudou entre eles.
Quando eu tive o prazer de entrevistar para o “Devo Tudo ao Cinema” a filha do saudoso compositor Henry Mancini, a cantora Monica Mancini, num dos papos prévios, contei a ela que uma das primeiras lembranças da música dele em minha vida foi o tema de “Os Girassóis da Rússia”, que considero até superior ao próprio filme.
Ao rever recentemente, agora finalmente em uma cópia linda em Blu-ray, a obra cresceu muito, as versões anteriores com imagem prejudicada e com enquadramento distorcido infelizmente atrapalhavam a minha análise. Não é o melhor trabalho do diretor Vittorio De Sica, mas é, sem dúvida, um de seus momentos mais sensíveis e poéticos.
A simbologia dos girassóis, que germinam no solo que guarda os corpos dos soldados, a beleza inspiradora que nasce como resposta ao indesejado, porém, necessário combate. Antonio até tenta fugir da convocação fingindo ser louco, com a ajuda da esposa, mas a farsa é descoberta.
Se o conflito separou o casal, modificou drasticamente as suas vidas, também forjou à ferro e fogo seus caracteres, basta comparar a atitude egoísta e impulsiva deles no leve e descompromissado primeiro ato, conscientemente filmado em tom cômico, caricatural, com o amadurecimento deles no desfecho (a frase dela: “percebi que se pode viver até sem amor”), já inseridos em uma sociedade livre da ditadura stalinista. A fotografia outonal do grande Giuseppe Rotunno reforça este contraste.
É um final triste? Sim, o amor foi interrompido, a melancólica figura do trem na estação como leitmotiv visual que se repete, salientando a transitoriedade da existência, mas ambos utilizaram o sofrimento como ponte de adaptação às novas realidades, e, principalmente, sem esconder as cicatrizes. Se Giovanna inicialmente foge do enfrentamento, adentrando o trem chorosa, logo depois compreende que o sentimento não deve ser infantilmente negado.
A elegância da jovem nova esposa de Antonio, Mascia (Lyudmila Saveleva), percebendo que o amado sofre, permitindo que ele se reencontre com Giovanna, emociona pela grandeza da atitude, representada na entrega da atriz, cujos olhos na cena encapsulam um oceano de angústia.
O roteiro de Tonino Guerra e Cesare Zavattini ganha pontos por enfatizar que a dor também é instrumento de aprendizado. Adultos que precisam lidar com os efeitos psicologicamente devastadores da guerra, algo que ninguém deseja vivenciar, mas que, como tudo na vida, precisa ser encarado com lucidez.
O filme e seu diretor foram apedrejados em seu país à época da estreia porque o projeto não era contaminado por ideologia política, o interesse de De Sica era emocionar o público, ao contrário de seus colegas que utilizavam cinema como muleta politiqueira. O resultado?
“Os Girassóis da Rússia” conquistou fãs fiéis e segue sendo amado mundialmente, enquanto boa parte das fitas engajadas do período seguem sendo obscuros antídotos para a insônia.
Trilha sonora composta pelo grande Henry Mancini:
Tema inesquecível, quantas lembranças…
Filme inesquecível.
A frase ” se é finita a guerra” é marcante.
Tinha 16 anos quando assisti esse filme. A sala de cinema em silêncio, a música maravilhosa, as cenas tão tristes…Quando as luzes acenderam-se pude ver as pessoas tristes com lágrimas escorrendo pelo rosto como orvalho, num fim de tarde sem sol…Nunca esquecerei essa experiência!
Tenho 65 anos quando revejo o filme e ouço a música choro.Metade de mim sabe porque choro a outra metade só reage como da primeira vez me emociona e me dá dimensão de que o belo integral jamais é esquecido.Enquanto viver lúcido vou chorar para Os Girassóis da Rússia.É um misto de emoções tão forte que se derrama para além de mim.Obrigado Senhor por me fazer sensível.