Maigret Arma Uma Cilada (Maigret Tend in Piège – 1958)

Há algum tempo, mulheres estão sendo brutalmente eliminadas por um criminoso misterioso. O inspetor Lagrume (Olivier Hussenot) pensa ter encontrado o culpado, um açougueiro (Alfred Adam) local. Mas Maigret (Jean Gabin), que assume a investigação, não está convencido.

A obra do escritor belga Georges Simenon faz parte da minha memória afetiva, durante boa parte da adolescência estudei e devorei tudo que encontrava nos sebos sobre detetives, Sherlock Holmes, Hercule Poirot, Miss Marple, Roderick Alleyn, Sam Spade, Auguste Dupin, Philip Marlowe e, claro, conheci Simenon através de sua criação, Jules Maigret, com “O Cachimbo de Maigret”.

No cinema, a sua melhor versão foi defendida por Jean Gabin, três pérolas, com destaque para a primeira, “Maigret Arma Uma Cilada”, de Jean Delannoy, que pude rever agora em cópia de altíssima qualidade, Blu-ray lançado pela Kino Lorber.

devotudoaocinema.com.br - "Maigret Arma Uma Cilada", de Jean Delannoy, com JEAN GABIN

Maigret se mostra cansado já na primeira cena, fala com a esposa (Jeanne Boitel) sobre a possibilidade de se aposentar, mas o sentimento de injustiça no caso estimula sua investigação. O tom é estabelecido nos primeiros vinte minutos, há um corajoso alívio cômico, jornalistas aguardando no corredor da delegacia, torcendo para que algo bombástico aconteça em tempo para a preparação da manchete, crítica ao circo sensacionalista.

E o protagonista joga com isto, apela para a farsa, contando com o ego do criminoso real, teatralizando a captura de um “louco”, satisfazendo a fome imediatista da imprensa, consciente de que logo será contatado pelo vaidoso criminoso. Ele arma então uma cilada, um sistema envolvendo apitos e mulheres treinadas para autodefesa que servem de isca, mas a trama se mostra muito mais intrincada do que ele imaginava. O roteiro prende sua atenção neste momento e não te larga mais.

Delannoy, que também assina o roteiro, com Rodolphe-Maurice Arlaud e Michel Audiard, consegue impor uma atmosfera Noir labiríntica, com a fotografia de Louis Page abusando de ângulos de câmera expressionistas, inserindo também questões psicológicas corajosas para a época na figura do suspeito principal e sua possessiva mãe.

Um FILMAÇO que ainda é injustamente pouco conhecido no Brasil.



Viva você também este sonho...

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