Fúria Selvagem (Man in the Wilderness – 1971)
Em 1820, um caçador que guia uma expedição que vai do Canadá ao Missouri é atacado por um urso e depois abandonado à própria sorte por seus companheiros. Depois de se recuperar e aprender sobre os índios da região, ele vai atrás de vingança.
Na época do lançamento do superestimado “O Regresso”, de Iñárritu, eu custei a entender a razão de tanto falatório, apesar da massiva publicidade conquistada com as indicações para os prêmios da Academia, e do infantil meme que pedia a estatueta para o protagonista, o resultado inchado esbanjava pretensão artística e pseudofilosofia de botequim, mas era irritantemente vazio.
O melhor filme sobre a história de Hugh Glass já havia sido feito e acumulava poeira na memória dos cinéfilos: “Fúria Selvagem”, de Richard C. Sarafian. Somente a perturbadora cena real do búfalo sendo devorado pelos lobos já garantiria a superioridade, sequência extremamente tensa em que o protagonista, vivido pelo grande Richard Harris, já bastante ferido, precisa lutar pelo seu alimento.
Os flashbacks inteligentemente inseridos vão revelando aspectos interessantes sobre o caráter do personagem, a sua relação conflituosa com o conceito de religiosidade, elemento que adiciona camadas interessantes de simbologia ao conto de sobrevivência, a aventura inconsequente como fuga da realidade triste do falecimento da esposa, o sentimento de culpa pelo abandono do filho nesse processo, conduzindo de forma emotivamente eficiente o espectador até o poderoso desfecho, o embate com o líder da expedição, que o deixou indefeso perante o que parecia ser o fim certo. Vivido pelo imponente John Huston, um tipo ególatra que, assim como Herzog faria uma década depois em “Fitzcarraldo”, puxa um grande barco em terra firme.
O que engrandece a obra é a beleza na constatação de que a suprema redenção, a recuperação física e psicológica após tantos traumas, passa obrigatoriamente pelo difícil obstáculo do perdão.
Onde está fúria selvagem? Foi o filme mais impressionante q vi no cinema na época da adolescência. Marcou por toda vida. Sem dizer q já amava Richard Harris. Achei O Regresso seria tão bom qto, mas não chega aos pés da primeira versão. Obrigada por lembrar desse fascinante filme. Boa noite. Cida