Um Príncipe em Nova York 2 (Coming 2 America – 2021)
O príncipe Akeem (Eddie Murphy) retorna aos EUA após descobrir que tem um filho na América, seu herdeiro no trono.
O primeiro trailer enganou bem, passava a impressão de que o roteiro, seguindo a verve cômica do filme original, não se ajoelharia diante do asqueroso politicamente correto, até faria graça dele, mas infelizmente a realidade é que a indústria norte-americana segue cavando sua própria cova, buscando cumprir a torpe agenda ideológica daqueles que enxergam arte apenas como muleta política na guerra cultural. Talvez quando o cinema hollywoodiano se tornar algo completamente irrelevante e comercialmente inexpressivo, os artistas e executivos entendam tarde demais que “apostaram no cavalo errado”.
O resultado incomoda os fãs da pérola de 1988, dirigida por John Landis, principalmente por cogitar que a garotada esperta da época (adultos hoje) aceitaria a dose excessiva de lacração. A série “Cobra Kai” faz sucesso exatamente por respeitar a inteligência e a nostalgia daqueles que cresceram com a trilogia “Karatê Kid”, elemento simples que é destruído logo nos primeiros minutos de “Um Príncipe em Nova York 2”. Os rostos conhecidos estão lá, mas a alma se perdeu. Imagine o Rambo, durante uma perseguição na selva vietnamita, virar para a câmera e dizer com voz chorosa: “Você me perdoa por ser homem?” O figurino está certo, o cenário também, mas algo fundamental foi extraído a fórceps para permitir situações e atitudes altamente improváveis.
A química entre Eddie Murphy e Arsenio Hall, amigos na vida real, algo tão forte no original, simplesmente não funciona. O texto não ajuda, as piadas soam forçadas, há exagero (em todos os sentidos) nos vários interlúdios musicais, o carinho pelos personagens ajuda nas primeiras cenas, mas não sustenta o interesse durante o segundo ato. A direção de Craig Brewer, que foi tão sensível no ótimo “Meu Nome é Dolemite”, está irreconhecível, mão pesada, sem charme, sem timing cômico. A utilização de computação gráfica nas cenas que remetem diretamente ao original é competente, mas a imersão do público é prejudicada pelo contraste gritante no estilo (equívoco grosseiro), o cérebro simplesmente não aceita como real (necessária suspensão de descrença).
O esforço é válido, mas é triste constatar que foi uma tremenda chance desperdiçada, ninguém esperava algo melhor, tarefa difícil, os fãs pediam apenas que a essência fosse respeitada. Reveja o clássico oitentista e perceba como ele segue eficiente, encantador e corajoso.
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