Nomadland (2020)
Fern (Frances McDormand) é uma mulher de 60 anos, que depois de perder tudo na Grande Recessão embarca em uma jornada pelo oeste americano, vivendo como uma nômade dos tempos modernos.
Eu não sou afeito à expectativa criada artificialmente por lobby ou politicagem, aprendi na faculdade de marketing que nunca é um bom sinal, logo, estranhei desde o início o falatório positivo nos veículos de imprensa com claro viés de esquerda, li textos que afirmavam que o filme simbolizava perfeitamente o momento que vivemos mundialmente, o alerta vermelho soou internamente.
O tema do filme é, sem dúvida, uma narrativa sob medida para os ingênuos que já passaram da fase pré-adolescente e seguem demonizando o capitalismo, aqueles que utilizam chavões como “desconstrução do sonho americano” (claro, os mesmos que, nas férias, viajam sorridentes para lá, ao invés de aproveitarem as belezas de países que vivem na pele há décadas as consequências da ideologia que pregam) ou defendem o fim da propriedade privada, o imediatismo revolucionário que altera o passado, a destruição das tradições, em suma, a massa de manobra de líderes que enriquecem enquanto conduzem seus povos à miséria controlada, tendo como bandeira uma utopia que se banha em sangue inocente, cujo maior mentor filosófico (basta ler biografias sobre ele) era, na melhor das hipóteses, um louco de amarrar com corrente.
Dito isto, não se deixe levar pelos muitos textos que utilizam a obra apenas como muleta para palanque político, “Nomadland” não é um panfleto comunista, tampouco uma obra-prima transformadora, como a maioria está defendendo, longe disto, o trabalho da diretora chinesa Chloé Zhao, dos bons “Songs My Brothers Taught Me” (2015) e “Domando o Destino” (2017), apesar de excessivamente arrastado, algo que pode afastar parte do público, ganha mais como metáfora poética, uma versão irrealista de “Na Natureza Selvagem”.
Na pérola de Sean Penn, baseada em história real, o jovem protagonista aprendia brutalmente ao final de sua aventura libertária que a felicidade só é tangível quando compartilhada. Já nesta idílica celebração do isolamento, adaptada livremente do livro “Nomadland: Surviving America in the Twenty-First Century“, escrito por Jessica Bruder, sobre indivíduos que, forçados pelas circunstâncias, vivem em vans, caminhões, viajando de cidade a cidade, há um grave problema estrutural, que também incomoda no material original (o roteiro apenas transporta a mensagem), a autora vende este estilo de vida como algo maravilhoso, romantizado, divertido, transcendental, quando, analisando racionalmente com maturidade emocional e psicológica, não poderia ser mais depressivo e desesperador.
A experiência sensorial é competente graças ao carisma da grande Frances McDormand, que carrega nos ombros o árduo desafio de manter a atenção do espectador, lutando contra o lento ritmo imposto pelas escolhas estéticas da diretora, que transformam 1h46m em 5h30m. O maior obstáculo é se conectar com o que vemos na tela, captar várias vezes em close, em longas tomadas, o expressivo rosto pensativo da atriz, necessariamente não nos força a refletir junto com ela, o silêncio pelo silêncio funciona em curtas-metragens, mas pode ser um exercício umbilical insuportável em longas que falhem em construir inicialmente uma ponte firme entre o público e a trama.
“Nomadland” é um show de atuação de McDormand disfarçando a busca de uma história plausível, pura perfumaria desorientada…
Cotação:
- O filme estreia hoje em algumas salas de cinema, ainda não há previsão para lançamento nas plataformas digitais.