O Fantasma da Ópera (The Phantom of the Opera – 1925)
Na Ópera de Paris, um misterioso fantasma (Lon Chaney) ameaça uma famosa cantora lírica, Carlotta, e a força a desistir de seu papel (Marguerite em Fausto) pela desconhecida Christine (Mary Philbin). Christine conhece este fantasma (um homem mascarado) nas catacumbas, onde ele mora. Qual é o objetivo dele? Qual é o segredo dele?
A adaptação silenciosa do livro de Gaston Leroux pela Universal Studios, de Carl Laemmle, segue muito eficiente, o clima pesado, a maquiagem perturbadora do grande Lon Chaney, o ritmo ágil, elementos que tornam a obra atemporal.
O curioso é que a produção foi bastante conturbada, Chaney e boa parte da equipe não se deram bem com o diretor, Rupert Julian, o responsável pela fotografia, Charles Van Enger, precisou se intrometer quando o protagonista simplesmente deixou de falar com Julian, todos antecipavam o momento em que os dois partiriam para a agressão física, logo, Enger se tornou a ponte entre os direcionamentos do cineasta e o astro. Na realidade, Julian era, na melhor das hipóteses, medíocre, inseguro, traço de personalidade destruidor em um set de filmagens.
Nas primeiras exibições, o público berrava de susto na clássica cena em que Christine arranca a máscara de Erik, houve relatos até de desmaios na sala escura. É um momento assustador até para o público moderno, mais pela expressividade facial do ator, do que apenas pela maquiagem, mérito tremendo.
Sempre que eu penso neste filme, resgato as lembranças de um dia atípico nas férias de final de ano, meados da década de 90. Eu, ainda na pré-adolescência, apaixonado pelo cinema de terror, carregava para todo lado à época o Guia de Vídeo – Terror, lançado nas bancas de jornais pela Editora Escala. Eu memorizava as sinopses, imaginava as cenas, e corria desesperado atrás daqueles filmes que ainda não tinha encontrado nas locadoras de vídeo. Este era um dos títulos que eu tinha mais interesse, já que sempre fui fã da história em suas várias versões.
Não havia internet, o garimpo cultural era realmente difícil, desafiador. Eu pegava a Lista Amarela e saía ligando para todas as locadoras da cidade, perguntando se tinham a fita, sem sucesso. Um filme mudo era praticamente impossível de se ver na programação da TV, então acabei me resignando, perdi a esperança. Nas férias escolares, fui passar umas semanas na casa do meu avô na região serrana de Teresópolis. Chegando lá, fiquei feliz, já que tinham aberto uma locadora exatamente na esquina da casa. Melhor, impossível! Na primeira visita que fiz ao lado do meu pai, meus olhos não podiam acreditar no que estavam vendo. Lá na prateleira, em posição de destaque, o VHS do clássico protagonizado por Lon Chaney, lançado pela distribuidora Continental. O meu corpo tremia de ansiedade, lia e relia a sinopse, aproximava o estojo dos olhos para apreciar melhor as imagens.
Após toda a burocracia para me tornar sócio, deixei meu pai furioso, afinal, eu precisava copiar aquela fita para colocar na minha coleção. Na casa do meu avô não havia os dois aparelhos necessários, então, por incrível que pareça, convenci meu pai a descer a serra comigo, quase 2 horas de viagem, de volta para nosso apartamento, para que eu pudesse realizar a operação. E, claro, voltamos no mesmo dia, inclusive para devolver a fita original, obviamente rebobinada. Isto é amor profundo pela arte, motivado por puro prazer.
Não há espaço para discursos vitimistas quando o indivíduo verdadeiramente está interessado no autoaprimoramento cultural, o interesse genuíno é fundamental, sem ele, nem mesmo oferecendo gratuitamente o material, a pessoa simplesmente rejeita. Hoje, com a tecnologia facilitando demais o processo, a massa parece ter perdido o elemento mais importante, ela simplesmente não quer ser melhor, a ambição atual é “parecer ser”, já que o “ser” demanda dedicação, dá trabalho.
O brilho no olhar de uma criança que verdadeiramente AMA cultura é a esperança para um amanhã digno e livre. Incentive este hábito em seus filhos e dê o exemplo em casa.
* Você encontra facilmente o filme garimpando na internet.