Um Ninho Para Dois (The Starling – 2021)
Uma mulher (Melissa McCarthy) que tenta superar uma perda precisa lidar com um estorninho genioso que invadiu seu jardim — e um marido (Chris O’Dowd) que luta para seguir em frente.
Eu não aprecio o trabalho da comediante Melissa McCarthy, acho ela muito forçada na maior parte das vezes, considero que ela funciona melhor no cinema como coadjuvante, mas tive uma bela surpresa com este “Um Ninho Para Dois”, em que a atriz é muito ajudada pelo ótimo roteiro de Matt Harris, um material humano valoroso que se destaca por abordar de forma psicologicamente madura o processo do luto.
A honestidade nos sentimentos transmitidos na história já marejou meus olhos nos primeiros 20 minutos, mas uma cena em particular me pegou de jeito, um conceito tão simples, e, ao mesmo tempo, tão bonito.
Lilly (McCarthy, em excelente momento), após se livrar do berço, na tentativa impulsiva de reiniciar sua vida e se afastar da dor, retorna para o quarto da bebê e, angustiada, percebe as quatro marcas do berço no chão acarpetado, logo, em negação, ela, como criança, esfrega suas mãos para desfazer o registro tangível daquela experiência traumática, até que, exausta física e mentalmente, desaba e, metaforicamente, pelos olhos do pequeno ser que habitava naquele espaço, a mãe vê o que a bebê via, o lúdico móbile giratório no teto.
O que engrandece o resultado é que, apesar do melodrama estabelecido com mão firme pelo diretor Theodore Melfi, há adorável senso de humor, um equilíbrio afinado e difícil. A maneira como o roteiro trabalha o personagem vivido por Kevin Kline, um psicólogo que, decepcionado com sua profissão, preferiu se tornar veterinário, e o relacionamento de amizade que se desenvolve entre Lilly e ele, agregam camadas de interpretação mais profundas, até transcendentais, para as mensagens que a obra transmite. Uma das questões filosóficas explora o que ocorre quando o indivíduo internaliza a dor e se escraviza em ciclos de desespero.
“Um Ninho Para Dois” é um filme pleno em coração, entrega respostas emocionantes sobre a necessidade de se retomar a esperança na vida, utilizando com inteligência o simbolismo do estorninho que, por instinto, protege seu ninho.
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