No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não é entregar uma longa análise crítica, algo que toma bastante tempo, mas sim, uma espécie de drops cultural, estimulando o seu garimpo (lembrando que só serão abordados filmes que você encontra com facilidade em DVD, streaming ou na internet). O formato permite que mais material seja produzido, já que os textos são curtos e despretensiosos.
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Paisagem na Neblina (Topio Stin Omichli – 1988)
Dois irmãos ainda crianças partem em um trem para a Alemanha, onde supostamente vive o pai que nunca conheceram. Durante a viagem, eles enfrentam sérias dificuldades e são obrigados a amadurecer, abandonando precocemente a infância.
A obra do saudoso cineasta grego Theo Angelopoulos, falecido em 2012, é problemática, seus filmes são excelentes antídotos para insônia, até mesmo a imprensa internacional criticava sua arrogância artística, uma postura umbilical que ele exibia em festivais, mas há um projeto dele que considero superior, talvez o único que realmente seja plenamente eficiente na prática em sua proposta, “Paisagem na Neblina”, vencedor do Leão de Prata de Veneza, uma ideia que nasceu a partir de uma matéria de jornal abordando a jornada de duas crianças que buscavam a figura paterna.
A preocupação do diretor com cada cena é louvável, ele frequentemente prejudica a fluência de ritmo para favorecer um preciosismo que se mostra cada vez mais raro no cinema mundial, basta perceber como cada enquadramento é pensado com inteligência matemática, a câmera é praticamente um personagem, o filme é como um organismo vivo, esmero desprezado pelo público moderno imediatista, incapaz de garimpar no esforço do diretor, por baixo do verniz de pretensiosismo inegavelmente pedante, verdadeiros diamantes brutos.
- Você encontra o filme em DVD e, claro, garimpando na internet.