Em mais uma entrevista exclusiva para o “Devo Tudo ao Cinema”, conversei com o filho deste grande ator norte-americano sobre o seu legado artístico. Charlie, além de muito talentoso, também é extremamente gentil, enviou a foto abaixo como gesto de gratidão pelo carinho com que falei sobre seu pai.
Eu cresci vendo os filmes da dupla Walter Matthau e Jack Lemmon. Enquanto o segundo transmitia doçura no olhar, o primeiro parecia aquele menino travesso da escola, mas com um coração de ouro. Por não se levar muito a sério, Walter não gostava da adulação de Hollywood, ele preferia entregar bons trabalhos, ao invés de satisfazer a indústria de mitos. Ele foi um dos mais versáteis atores de sua geração, ainda que muitos equivocadamente o reduzam aos seus personagens cômicos.
O– Charlie, todos sabemos que Walter foi um ator fantástico, extremamente versátil, mas como era enquanto figura paterna? Eu acredito que tenha sido maravilhoso, criativamente falando, crescer com alguém envolvido na indústria do cinema/teatro. Compartilhe com meus leitores um pouco desse lado que só você conheceu.
M – Eu fui muito abençoado por ter tido um pai verdadeiramente maravilhoso. Ele era generoso, gentil, caloroso, espirituoso, amoroso e sempre estava presente. Ele cresceu sem o pai, então ele tinha essa determinação de estar sempre comigo, pra me apoiar em tudo. E sou extremamente grato a ele por isso.
O – Sua família foi muito próxima de Charles Chaplin e Oona, você teve seu nome dado em homenagem ao mestre do cinema mudo. Vocês viam os filmes dele juntos? Fale um pouco dessa experiência mágica.
M – Vimos vários filmes do meu padrinho, ele foi o nome mais importante da era silenciosa, um dos inventores do cinema. Eu me sinto muito honrado de ter tido o privilégio de conhecer ele.
O – O que te fez decidir por se tornar cineasta? O seu pai sempre te apoiou nessa decisão?
M – Eu sempre pensei que o diretor tem o trabalho mais interessante, exatamente por ser um contador de histórias. Meu pai me apoiou muito nessa decisão, sempre torceu por minha carreira, ainda que ele tenha me alertado que seria muito difícil conseguir trabalhos realizando essa função. Todos os filmes tem muitos atores e produtores, mas apenas um diretor.
O – Como um fã de Elvis Presley, eu preciso te perguntar sobre “King Creole”. Qual era a opinião do seu pai sobre o talento dele como ator?
M – O Elvis era muito modesto. Meu pai me contava que, no primeiro dia de filmagens, Elvis se aproximou dele e disse que qualquer ajuda com relação à sua atuação, qualquer dica nesse sentido, seria muito bem-vinda. Meu pai respondeu: “Elvis, eu já vi você atuando, você não precisa de qualquer tipo de ajuda”.
O – Matthau e Lemmon foram uma das melhores duplas da história do cinema. Qual era o elemento naquela amizade que você acredita que tenha sido a razão principal do sucesso? E, dentre todas as produções da dupla, qual é o seu momento favorito?
M – Creio que seja porque eles tinham um senso de humor muito similar, mas também defendiam “tipos” diferentes. E os dois eram atores geniais, de altíssimo nível. O meu filme favorito da dupla é “The Grass Harp” (Ensina-me a Viver, de 1995), que eu tive a honra de dirigir. Você não deve perguntar ao barbeiro se precisa de um corte de cabelo (risos).
O – Eu gosto de “Gangster Story”, que seu pai dirigiu em 1959. Eu sei que ele não tinha muito apreço pelo projeto, mas há potencial nele, percebo boas ideias dele naquela função. Ele tinha interesse em dirigir outros projetos?
M – Não, ele odiou dirigir. Ele achava que dirigir era uma tremenda chateação. Mas, pensando bem, quando você é Mozart, você realmente quer ser maestro de uma orquestra?
O – Quando comparo atuações dele em filmes como “O Homem Que Burlou a Máfia”, “Um Estranho Casal”, “O Caçador de Dotes” e “Flor de Cacto”, fico impressionado com a versatilidade dele, mas era algo que ele fazia parecer fácil, cool, como somente os grandes atores são capazes de fazer. Como você resumiria a dimensão do talento dele como ator?
M – Ele era um em um bilhão. Não há ator melhor.
O – Qual estilo de música o seu pai costumava escutar em casa? Quais eram seus cantores favoritos?
M – Mozart e Beethoven. Os únicos cantores que ele gostava eram de ópera. O favorito dele era Ezio Pinza.
O – Se você tivesse que selecionar apenas um filme do seu pai para preservar como o legado maior dele para a indústria do cinema, qual seria o escolhido? E a razão?
M – Eu escolheria “Uma Dupla Desajustada” (The Sunshine Boys, de 1975), porque aquela é a melhor atuação dele na carreira, mas ele está bem demais também em “The Grass Harp”. Outro projeto subestimado dele que agora está disponível é “O Caçador de Dotes” (A New Leaf, de 1971), que você já citou, filme muito engraçado.
O – Charlie, grato demais pelo generoso tempo. Você pode deixar uma mensagem especial para os meus leitores, os brasileiros que são fãs de seu pai?
M – Foi uma honra ser entrevistado por você, Octavio. Eu espero visitar o Brasil algum dia. Eu sempre estive apaixonado pelo seu país, desde que escutei pela primeira vez a canção: “Corcovado”. E eu sou muito grato ao povo brasileiro por lembrar do meu pai com tanto carinho.
Fiquei extremamente emocionada com sua entrevista. Adorei. Sou super fã dele é cresci vendo seus filmes pois aqui em casa todos somos fã dele. Deu vontade de ver tudo de novo. Obrigada por nos trazer isso. Sugiro que consiga uma entrevista com Maria Cooper. Eu amaria. Sucessos !!!?