Medieval (2022)
Um líder (Ben Foster) mercenário sela seu destino ao declarar guerra contra os exércitos da Ordem Teutônica e do Sagrado Império Romano.
Eu trabalhei durante mais de 13 anos como crítico de cinema em veículos da imprensa, escrevia sobre vários lançamentos semanais, mas, atuando de forma independente hoje na área, tenho a liberdade de escolher os títulos que tomarão o meu tempo, não preciso mais me esforçar para encontrar elementos positivos em projetos muito ruins, e, infelizmente, estamos vivendo um período terrível para a indústria, raramente termino uma sessão com vontade de analisar a obra, a infantilização absurda, o autodestrutivo movimento “woke” com seus roteiros amadores, ficou tudo tão óbvio, previsível, que a minha fonte de diversão está sendo focar no passado, na formação de um público criterioso e que valorize a preservação da memória cultural.
Quando algo como “Medieval” aparece, sinalizando que adultos psicologicamente maduros tomaram o controle novamente, resgato agradecido o impulso que outrora me estimulou a iniciar na função.
O roteirista/diretor tcheco Petr Jákl já havia mostrado coragem em seu trabalho anterior, “Ghoul” (2015), em que utilizou o contexto do Holodomor, a Grande Fome que atingiu a Ucrânia durante o regime comunista soviético, como base para experimentar com códigos do terror. O resultado era problemático em alguns aspectos, mas o seu talento poderia ser lapidado. E, desta feita, auxiliado por um grande elenco, incluindo o sempre competente Michael Caine, ele entrega uma tensa aula de imersão no cenário caótico da guerra, esquivando-se do melodrama, facilitada pela visível alta qualidade de produção, figurino, maquiagem, sem concessões mercadológicas.
A trama aborda a jornada real de Jan Žižka, uma das figuras mais importantes da História tcheca, ele foi comandantes na guerra civil da Boêmia, do movimento religioso hussita e sucessor do fundador Jan Hus. Como os exércitos sob seu comando nunca perderam uma batalha, ele adquiriu a fama de invencível. É um recorte praticamente desconhecido para o público brasileiro e o roteiro não se interessa em ser didático, opção que pode tornar o resultado um pouco confuso, mas a pegada visceral, realista, aliada à brutalidade épica com que a fotografia de Jesper Tøffner apresenta as batalhas e os conflitos psicológicos, impedem que o público se desconecte emocionalmente.
Um dos acertos do roteiro é evidenciar o brilhantismo do protagonista enquanto estrategista militar e tático, evitando o equívoco usual em produções que abordem o mesmo período, sempre pintando caricaturas de pura bestialidade. Vale destacar também a presença de Sophie Lowe, excepcional como a amável, leal e ferozmente corajosa Lady Katherine.
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