Você liga a TV para rever uma pérola da era de ouro de Hollywood e recebe, antes da sessão, um aviso reforçando que aquela obra reproduz o pensamento da época em que ela foi produzida.
Trocando em miúdos, o sistema, após décadas de um processo consciente de infantilização dos adultos, está agora evidenciando que a massa se tornou incapaz de raciocinar. Uma criança na década de 80 sabia contextualizar, mas o adulto moderno precisa ser avisado do óbvio: cada obra artística é fruto de seu tempo. O que está por trás desta atitude?
O ingênuo pode sacar da cartola o clássico “é para o nosso bem”, mas, depois dos últimos três anos, a quantidade de ingênuos no mundo diminuiu bastante. Não, esta iniciativa não é orgânica, convido você que me lê neste momento a exercitar o cérebro.
A ideia subliminarmente induz à compreensão de que vivemos hoje em um mundo melhor, mais inteligente, mais justo, em suma, superior, e que devemos olhar com desprezo para os frutos desta árvore antiga, podre, obsoleta.
Analisando desta forma, seguindo esta linha de raciocínio, podemos conjecturar que o público de 2053 receberá avisos antes das obras esclarecendo que o material produzido nas três décadas anteriores era fruto de uma sociedade doentia e profundamente cretina?
Se as intenções são nobres, e, principalmente, honestas, creio que os homens do amanhã ficarão tão chocados com o que a indústria do entretenimento, em todos os setores, entrega hoje, que um aviso só não será suficiente, uma cartilha seria mais apropriada, quiçá um manual de instruções para entender como, por exemplo, a música popular criada nas comunidades carentes que poeticamente dizia: “ouça-me bem amor, o mundo é um moinho, vai triturar teus sonhos, tão mesquinho, vai reduzir as ilusões a pó”, foi substituída por: “no chão, novinha, novinha, novinha, novinha”.
E no cinema? Compare os personagens adultos dos filmes das décadas de 30, 40, 50, com os personagens adultos dos filmes produzidos nos últimos vinte anos. Vale ressaltar, não estou me limitando aos projetos mais fantasiosos, com homens de barba grisalha voando e soltando raios pelas mãos, pegue qualquer filme dito sério produzido hoje e compare com o que a indústria entregou no período citado.
Ah, mas espere um momento, eles estão afirmando que alcançamos a superioridade, logo, não faz sentido… Pense junto comigo, reflita com atenção. Será então que esta atitude sinaliza claramente que o sistema está projetando um futuro em que a massa será ainda mais infantilizada e incapaz de raciocinar? Agora as peças se encaixam, o nível de manipulação será supremo. E será “para o nosso bem”?
Infelizmente muitos não conseguem entender o perigo que se esconde por trás destas iniciativas, em teoria, tão positivas. O povo precisa pensar, exercitar o raciocínio lógico, enquanto ele ainda não é criminalizado.